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Estados Unidos: À procura de caminhoneiros

A economia em expansão dos Estados Unidos enfrenta um problema: a falta de caminhoneiros. O setor, que historicamente emprega motoristas brancos e mais velhos, está com uma déficit de cerca de 50 mil motoristas para conseguir atender à demanda, segundo a Associação Americana de Transporte de Carga. A escassez está afetando toda a cadeia de suprimentos, causando um gargalo logístico que provoca atraso das entregas de mercadorias e levou algumas empresas a aumentar os preços.

O governo e o setor tentam aliviar o problema, abrandando as normas federais e pretendendo buscar motoristas não tradicionais, como mulheres, adolescentes e minorias para conduzir grandes carretas.

O Departamento dos Transportes recentemente engavetou inúmeros regulamentos de segurança que lobistas do setor afirmam conter imposições desnecessárias, mas que os sindicatos dos caminhoneiros apoiam, incluindo a exigência de que as carretas possuam software de limitação de velocidade e que os motoristas sejam examinados para verificar se têm apneia do sono.

A Casa Branca também respaldou um programa piloto que permite que motoristas mais jovens com treinamento militar dirijam veículos comerciais em estradas interestaduais. Embora seja um programa experimental, é uma mostra da disposição em se permitir que motoristas com menos de 21 anos transportem mercadorias de um Estado para outro, algo que as normas federais atualmente proíbem.

Além disso, muitas empresas de transporte estão oferecendo benefícios para os motoristas, incluindo bonificações. A escassez vem aumentando há algum tempo, à medida que as gerações mais jovens manifestam menos interesse pelo setor, em que os salários estão estagnados.

A rotatividade também é um problema – nas grandes frotas ela aumentou para uma taxa anual de 95% no ano passado. O salário médio de um chofer de caminhão é de cerca de US$ 42.488 ao ano, de acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho.

À medida que a economia global se intensificou, a demanda por caminhões de transporte de produtos superou a oferta de motoristas, e com isso houve uma elevação do frete e um aumento dos preços dos produtos, que em alguns casos chegou a 20%.

Empresas de alimentos em particular, como Campbell Soup, General Mills e Mondelez International, citaram o aumento de gastos com o frete como um fator que afetou seus lucros nos últimos meses.


Novo público
Darren Hawkins, diretor executivo da YRC Trucking, uma das maiores transportadoras de carga do país, disse que a gravidade da escassez de motoristas torna crucial buscar candidatos em grupos que estão pouco representados no setor.

“Temos um problema e precisamos trabalhar mais para atrair novas pessoas para essa profissão, um público que não acessamos até hoje”, afirmou.

O transporte rodoviário é um campo mais oneroso para quem deseja ingressar na profissão do que no caso de alguns setores concorrentes como o varejista, de construção ou fast-food. Além das semanas necessárias de aprendizado em uma autoescola, que custa alguns milhares de dólares, o trabalho exige com frequência que o motorista passe um longo espaço de tempo longe de casa.

As mulheres e minorias constituem apenas uma fração de toda essa população de caminhoneiros: 94% são homens e dois terços são brancos, segundo informe divulgado em 2017 pelas associações de transporte americanas.

Kristina Jackson, caminhoneira afro-americana de 22 anos, de Raleigh, Carolina do Norte, é o tipo de pessoa que o setor deseja atrair. Após se formar na faculdade, ela queria encontrar um emprego que lhe permitisse viajar e ser financeiramente independente. Nunca pensou em dirigir um caminhão até que o pai do seu namorado, chofer de uma transportadora, a convenceu a tentar.

Um ano na profissão, e ela é constantemente lembrada de que é um caso atípico no setor. “Quando as pessoas ficam sabendo que dirijo um caminhão, elas ficam chocadas por causa da minha idade e sexo. Quando você pensa num caminhoneiro, a primeira coisa que vem à cabeça é de que é um homem velho e branco.”

Em sua opinião, mais jovens podem ser persuadidos a ingressar no setor. Ela pessoalmente já recrutou 10 amigos que estão por volta dos 20 anos de idade. Mas acha que os recrutadores estão fazendo um péssimo trabalho nesse campo.

A medida respaldada pelo governo busca mudar isso e se direcionar para jovens formados nas escolas secundárias, um grupo pelo qual as transportadoras têm se interessado, mas que tem ficado fora do alcance dos recrutadores.

Polêmica
A proposta do governo no tocante à idade é a mais controversa das iniciativas. Alguns Estados já permitem que motoristas com menos de 21 anos conduzam caminhões dentro do Estado e o setor tem feito pressão para a idade ser reduzida para o transporte interestadual. Mas há aqueles que se opõem, focados na segurança, afirmando que o “grupo mais perigoso de motoristas” não deve ter autorização para dirigir nas estradas interestaduais.

Ellen Voie, presidente da Women in Trucking Association (organização sem fins lucrativos que tem por missão incentivar o emprego de mulheres no setor de transportes), afirmou que o setor começa a perceber que precisa também recrutar mulheres. “Há homens que ainda acham que as mulheres não devem conduzir caminhões. Eles são poucos, mas ruidosos”, disse. “Mas a situação mudou muito nos últimos cinco anos porque as transportadoras vêm se esforçando para garantir que as mulheres tenham uma boa experiência.”
FONTE: The New York Times
Tradução: Estadão Conteúdo
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