Facchini


Salão de Hanôver 2014

O Brasil já foi bem mais popular no cenário automotivo mundial. Mas, de solução, agora é encarado como problema. Isso ficou evidente na 65ª edição do Internationale Automobil-Ausstellung Nutzfahrzeuge, o IAA. O nome em alemão pode ser traduzido como "Exposição Internacional de Veículos Comerciais", mas o evento bianual é mais conhecido no mercado brasileiro simplesmente como Salão de Hanôver. Na edição de 2014 do maior motorshow de caminhões, ônibus e veículos comerciais do mundo, a atual queda nas vendas no mercado brasileiro, que há tempos era visto como um oásis de crescimento em meio à retração planetária no setor, foi responsabilizada por diversos números pouco animadores de vendas globais. Se os mercados centrais – Europa, América do Norte e Japão – até ensaiam tímidas recuperações depois da longa pasmaceira deflagrada pela crise de 2008, as expressivas quedas das comercializações no Mercosul nos últimos dois anos, puxadas pelo Brasil e pela Argentina, derrubaram muitos balanços. Algo que, no Salão de Hanôver 2014, provocou sorrisos amarelos de inquietação nos executivos de muitas empresas do setor. 
Nesse mercado global em transformação, onde europeus e norte-americanos parecem finalmente ter retomado – ainda que discretamente – o fôlego e o protagonismo, as empresas do setor aproveitaram a mostra germânica para tentar se reposicionar e ganhar vantagem em relação à concorrência. Para algumas, a estratégia é aproveitar a visibilidade do evento para se afirmar como detentoras de tecnologias superiores. As alemãs Mercedes-Benz e ZF se sentiram em casa para apresentar protótipos futuristas para o transporte pesado. A fabricante de transmissões e outros componentes automotivos com sede em Friedrichshafen exibiu no campo de provas do evento o seu Innovation Truck, que oferece a possibilidade de ser manobrado remotamente, em baixas velocidades, através de um tablet - como se fosse um carrinho de controle remoto. Já a marca da estrela de três pontas sediada em Stuttgart revelou o protótipo Future Truck 2025, com seus conceitos de como serão os caminhões dentro de uma década – com destaque para os sistemas de condução autônoma, sem a intervenção do motorista. 
Também na proposta futurista – com direito ao tema de "Star Wars" como música de fundo durante a apresentação à imprensa mundial –, a italiana Iveco mostrou a versão conceitual Vision da nova geração da Daily. Com menos espalhafato, a Volkswagen apresentou a picape conceitual Tristar, com diversas soluções criativas para o aproveitamento de espaço. Mesmo sem ser futurista, quem também mexeu com a imaginação do público de Hanôver foi o Western Star 5700 Optimus Prime. O parrudo modelo da marca norte-americana exposto está decorado como o caminhão-robô protagonista da série cinematográfica "Transformers".
Mas nem só de fantasia e propostas conceituais se faz um evento automotivo – ainda mais em tempos tão difíceis quanto os atuais. Com as rodas bem fixas na realidade, alguns destaques de Hanôver já têm desembarque imediato nos mercados centrais. O MAN TGX D38, com seu motor moderno Euro 6 com reduzidos níveis de emissões, é focado no mercado europeu, assim como o Scania G410 Euro 6, recentemente eleito o "Caminhão Verde" do ano na Europa. Um argumento de marketing nada dispensável nos tempos atuais – ainda mais no Velho Continente. 
Apesar da fase adversa, há até algumas novidades de Hanôver que podem dar as caras em breve no abatido Mercosul. A van Mercedes Vito já tem produção confirmada para a mesma fábrica na Argentina onde é feita a Sprinter vendida no Brasil. O caminhão médio DAF LF está cotadíssimo para ser o novo modelo da marca holandesa a ser fabricado no Paraná. E o Volvo 7900 Hybrid Articulated pode ser uma opção para a marca sueca, que já produz ônibus híbridos em Curitiba e assiste a um aumento da demanda por modelos articulados no mercado nacional. Ou seja, o Brasil até pode não estar nos seus melhores dias no panorama automotivo mundial – mas está longe de merecer desprezo.

Top Ten - Dez destaques do Salão de Hanôver 2014
ZF Innovation Truck - As empresas alemãs de componentes ZF, ZF Lenksysteme – joint venture da ZF e da Bosch – e Openmatics se juntaram para projetar um caminhão que demonstrasse como seus novos sistemas automotivos inteligentes funcionam. O protótipo do cavalo-mecânico com carreta mede 25 metros – com semirreboque e reboque – e integra avançados sistemas de transmissão, direção e telemática. O modelo é equipado com a nova transmissão automatizada TraXon Hybrid e conta com o sistema de direção com sobreposição de torque ZF Servotwin para veículos comerciais. Mas o "gadget" mais surpreendente do Innovation Truck é um aplicativo que permite que a carreta seja manobrada remotamente para a posição desejada – num pátio de estacionamento, por exemplo – através de um tablet, como em um "game". Além do novo "brinquedinho" conceitual, a ZF comemora a compra da norte-americana TRW – aquisição que a posiciona entre as três maiores empresas de componentes automotivos do mundo. E anunciou em Hanôver que irá produzir no Brasil os câmbios automáticos para veículos comerciais AS-Tronic e TraXon.
Mercedes-Benz Future Truck 2025 - A alemã Mercedes-Benz apresentou o protótipo de um cavalo mecânico que pode ser conduzido em regime autônomo – sem a intervenção do motorista – por rodovias e vias expressas. O Mercedes-Benz Future Truck 2025 é derivado do Actros 1845, com 449 cv de potência e 224,3 kgfm de torque máximo, equipado com o câmbio automatizado Mercedes PowerShift 3 de 12 marchas. Para possibilitar a condução autônoma, o Future Truck 2025 é recheado de aparatos tecnológicos, com sensores e câmaras interconectados em rede, capazes de gerar uma imagem completa do entorno do caminhão e com precisão a ponto de reconhecerem o acostamento com a ajuda das linhas delimitadoras. O sistema dispõe dos dados de um mapa digital viário em três dimensões. Ao entrar na estrada, o condutor ocupa a pista da direita e, depois de alcançar a velocidade estabelecida de 80 km/h, o sistema oferece a opção "Highway Pilot". Nesse modo, o motorista pode girar seu assento para uma posição de trabalho ou de descanso. Tanto que a cabine do modelo conta com um console central similar a uma estação de trabalho de um escritório. Além disso, o condutor tem a sua disposição um tablet removível, com tela sensível ao toque para executar outras atividades.
MAN TGX D38 - Destaque da MAN no IAA 2014, o TGX ganha esse nome em função de seu novo motor, batizado de D38. O recém-desenvolvido seis cilindros e 15.2 litros pode ser calibrado para render 520, 560 ou 640 cv de potência. O motor com turbo-alimentação de dois estágios tem torques máximos de 254,9 kgfm (520 cv), 275,3 kgfm (560 cv) e 305,9 kgfm, disponíveis em todas as marchas. Com controle de cruzeiro interligado ao GPS, o sistema reconhece aclives e declives à frente e calcula a velocidade mais econômica. Isso resulta em uma redução de combustível que pode chegar a 6% para transportes de longa distância. O trem de força recebe a transmissão TipMatic 2 em todas as suas versões. A caixa de câmbio traz três novas funções: a Speed Shifting, que reduz interrupções na tração, a EfficientRoll economiza combustível ao colocar a caixa de câmbio em ponto morto e o modo Idle Speed Driving atua nos engarrafamentos e nas manobras, contando com alto torque na mais baixa velocidade.
DAF LF - O DAF LF é um caminhão de distribuição de 12 toneladas com para-lamas, spoiler e defletor criados especificamente para melhorar a aerodinâmica e reduzir as emissões de poluentes com a economia de combustível. De acordo com a marca holandesa, o cavalo mecânico consome, em sua nova geração como motor Euro 6, uma média de 4% menos de diesel. Mas esse número chega a 8% em velocidade constante de 85 km/h. São duas opções de chassis, com 6,75 metros ou 7,05 m. O caminhão pode ser equipado com motor Paccar PX-5 de 4.5 litros, 112 cv e quatro cilindros ou o propulsor Paccar PX-7, de 6.7 litros, 253 cv e seis cilindros. Este modelo é bastante cotado para ser produzido em breve na fábrica da marca holandesa no Brasil, localizada na cidade paranaense de Ponta Grossa. Só que com uma motorização Euro 5/Proconve 7, que é padrão no mercado brasileiro, é claro.
Scania G 410 Euro 6 - Para reduzir os níveis de consumo, a Scania adotou em seu Streamline G 410 4x2 um sistema defletor de ar complementar. O resultado foi uma eficiência energética digna de conquistar o título ecológico de "Green Truck of the Year". O modelo tem a cabine-cama da linha Highline da série G e é equipado com o motor Scania de 13 litros, 6 cilindros em linha e 410 cv. O torque máximo é de 219,2 kgfm. O trem de força é completado por uma transmissão de 12 velocidades totalmente automática, que facilita a vida do motorista e é programada para auxiliar na redução do gasto de combustível. O conjunto todo faz com que o Scania G 410 consiga rodar 100 km consumindo uma média de 23,29 litros de diesel.
Western Star 5700XE Optimus Prime - De acordo com a Western Star Trucks, o XE do seu 5700XE significa “extrema eficiência”. Com grande variedade de entre-eixos e também de cabines, o modelo já é famoso no mundo inteiro. Ele é um dos robôs com formas automotivas da série de filmes “Transformers”, conhecido como Optimus Prime. A marca aposta em novos recursos aerodinâmicos do capô, teto, chassis e cabine do 5700XE para reduzir o arrasto e aumentar a eficiência. O caminhão pode ter motor com até 600 cv de potência e torque de 283,4 kgfm. Mas há opções de propulsores menores, como o DD13 de 470 cv.

Iveco Vision - O conceito da marca italiana foi desenvolvido sob a ideia de uma van capaz de poluir menos sem perder suas capacidades comerciais. O Vision é equipado com um sistema de dupla energia que permite a utilização de dois tipos diferentes de tração: um elétrico, indicado para trajetos curtos, e outro híbrido, adequado para viagens longas e que diminui em até 25% as emissões de CO2 e o consumo de combustível. Para evidenciar a vocação profissional, um sistema de gerenciamento de carga utiliza uma série de sensores que identificam a carga e indicam a melhor posição para ela no interior do veículo. A partir dessa identificação, são acionados dispositivos de contenção que impedem a movimentação de cargas.

Mercedes-Benz Vito - Versão comercial do Classe V, sucessor do Viano, o Vito será produzido em 2015 na fábrica de Virrey del Pino, na Argentina. Trata-se de um comercial leve menor que a Sprinter com capacidade de carga de 1.369 kg e três versões: furgão de carga, furgão misto de carga e passageiros e apenas passageiros. O modelo ainda não tem data marcada para chegar ao Brasil e, além da usual tração traseira, disponibiliza também a opção de tração dianteira, associada ao motor 1.6 CDI movido a diesel com potências de 88 cv ou 114 cv. Já as versões com rodas motrizes traseiras contemplam o motor 2.1 CDI a diesel com três opções de potência: 136 cv, 163 cv ou 190 cv.

Volkswagen Tristar - Num exercício da futurologia, a Volkswagen mostrou a picape Tristar. O conceito antecipa como será a próxima geração de veículos comerciais da marca alemã, que deve surgir no ano que vem. De acordo com a fabricante, o modelo adota um motor turbodiesel de 2.0 litros de 204 cv e 45,9 kgfm de torque acoplado a uma transmissão automatizada de dupla embreagem e sete marchas. Já o visual do protótipo é inspirado na van Transporter – hoje em sua quinta geração. Assim como o interior, onde o painel é semelhante ao veículo vendido há mais de 60 anos. O habitáculo ainda ostenta bancos giratórios, uma mesa tablet com tela de 20 polegadas, sistema para videoconferência, mesa para refeição e também uma máquina de café embutida atrás do banco do motorista. Alguns itens, definitivamente, não devem ser levados em consideração em uma versão de produção.
Volvo 7900 Hybrid Articulated - Os ônibus híbridos apareceram em profusão em Hanôver. Um dos mais vistosos é o ônibus articulado da Volvo, que tem capacidade para transportar 154 passageiros com consumo de combustível até 30% menor do que o modelo diesel atual. Vendido para algumas cidades europeias e com produção em série iniciada no começo deste ano, o Volvo 7900 Hybrid é equipado com um propulsor a diesel 5.0 de 240 cv e 92,8 kgfm de torque aprovado pelas normas Euro 6 que trabalha em conjunto com um elétrico de 150 kW. Com 18 metros de comprimento, o ônibus armazena a energia das frenagens na bateria para, posteriormente, utilizá-la pelo motor. De acordo com a Volvo, o modelo reduz em 87% as emissões de nitrogênio e 50% as emissões de partículas poluentes. Como a marca sueca já produz ônibus híbridos em Curitiba e a demanda por modelos articulados no Brasil anda aquecida em virtude dos diversos BRTs em fase de implementação no país, pode ser que o 7900 Hybrid Articulated acabe nas linhas de montagem paranaenses, em versão com motor Euro 5.
FONTE: Salão do Carro 
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