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Caminhoneiros gravam manobras arriscadas para se exibir na internet

O caminhão-cegonha faz uma ultrapassagem. De repente, o motorista repete a manobra. O caminhão - que transporta 11 carros - está a quase 120 quilômetros por hora.
Quem filma e quem faz a manobra perigosa se conhecem. Conversam por rádio. O vídeo está na internet. Assim como vários outros semelhantes. Entre os caminhoneiros, a manobra é conhecida como "quebra de asa". O objetivo é tirar as rodas do asfalto, se exibir e depois contar vantagem, mesmo colocando em risco a segurança nas estradas.
“A gente costuma inclusive dizer que, nesse momento, o motorista se torna passageiro. Ele perde totalmente o controle do caminhão e ele conta 100% com a sorte. Risco iminente de acidente, não tenha dúvida”, avalia Clóvis Cendon, da Polícia Rodoviária Federal.
Em outro vídeo, um caminhão-tanque faz zigue-zague na estrada durante um minuto. São 40 "quebras de asa" seguidas.
“Quando vazio, se torna uma verdadeira bomba. O gás ali transforma numa bomba esse reboque. Já cheio, ele incendiaria, no caso de um acidente”, alerta Junqueira.

O vendedor Ricardo Stancatti viu uma manobra dessas acabar muito mal: “O caminhão perdeu a direção e saiu fora da estrada. Já entrou na minha frente fazendo um movimento de zigue-zague”.
Esse acidente aconteceu perto da capital paulista, na Rodovia Fernão Dias. Ninguém se feriu. O caminhoneiro tentou enganar a polícia.
“Ele estava saindo da cabine e falando assim: ‘Olha, um carro me fechou’. Falei: ‘Ninguém te fechou porque a gente está te seguindo há bastante tempo e vi que você estava correndo e dando zigue-zague na estrada’”, conta Stancatti.
Na maioria dos vídeos, fica claro que é tudo combinado para que a manobra possa ser gravada. De um carro ou de outro caminhão, alguém coordena a filmagem.
“São gravadas intencionalmente e postadas intencionalmente também nas redes sociais e na internet, para causar esse impacto. Porque isso causa muito impacto na sociedade”, explica Cendon.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o motorista e a transportadora podem ser responsabilizados.
“O motorista responderia criminalmente e a empresa, como proprietária, responderia civilmente pelo ocorrido”, assegura Cendon.
Congelando as imagens, em vários momentos da gravação, é possível identificar algumas placas e o nome das transportadoras. O Fantástico foi atrás das empresas.
Na Costeira, ninguém quis gravar entrevista. Ligamos na direção da transportadora, que confirmou: um dos caminhões é da empresa. “A gente acabou identificando que era nossa mesmo e acabamos mandando o motorista embora”, diz um funcionário.
A Bendo Transportes e Consultoria não quis se manifestar.
Já a Cooperserra informou que um dos vídeos foi gravado numa rua de São Joaquim, Santa Catarina, cidade onde fica a cooperativa. Disse ainda que o caminhão pertence ao motorista que fez a manobra.
“O motorista não estava em viagem, nem transportando carga nenhuma naquele momento. A intenção foi apenas divertir, mas tomou uma proporção que a gente não esperava”, afirma Giane Andrade, assistente da Cooperserra.
Procuramos também a Transauto, a dona do caminhão-cegonha mostrado no início dessa reportagem, fazendo manobras a 120 km/h.
Em nota, a empresa disse que os motoristas foram identificados, que tomou as medidas cabíveis e que repudia esse tipo de comportamento dos caminhoneiros.
Em maio passado, numa estrada perto de Ubá, a cerca de 250 quilômetros de Belo Horizonte, pessoas viram um caminhão da Móveis Bom Pastor fazendo as manobras e chamaram a polícia. Roberto Simão foi preso em flagrante e responde em liberdade.
“Poderia acontecer um acidente gravíssimo porque havia muitos veículos vindo em sentido contrário”, recorda o sargento Jairo Gomides, da Polícia Militar Rodoviária de Minas Gerais.
Para a polícia, o caminhoneiro disse que estava testando o alinhamento e o balanceamento do veículo. Segundo a advogada da Móveis Bom Pastor, trata-se de um caso isolado e o motorista foi advertido.
Claudio Gasparetti, engenheiro mecânico de uma montadora de caminhões, alerta: “Essas manobras judiam, prejudicam demais os pneus, que passam a ter desgastes bastante irregulares, completamente comprometidos. Ou os componentes são reparados ou surpreendem o motorista seguinte, com alguma falta de controle. É uma atitude totalmente irresponsável, reprovável e tem que ser condenada”.
“É um risco muito grande que a gente corre viajando por conta desse desrespeito”, desabafa Stancatti.

FONTE: Globo.com 
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