Facchini


Por que o frete de carga de projeto é caro para quem contrata e não remunera adequadamente quem faz o transporte?

Locar/Divulgação
Para começar é preciso pontuar que essa afirmação divide opiniões. Muitos transportadores e mesmo embarcadores acham que não é verdade que o frete seja caro. Argumentam, com razão, que o frete de carga de projeto requer o uso de equipamentos com alto valor de aquisição, parte deles, com preço em dólar ou euro, pela inexistência de fabricação no Brasil, em especial dos ativos com suspensão e direção hidráulica, não sendo possível deixar de incluir os custos elevados, do capital envolvido, assim como dos custos com depreciação e manutenção desses equipamentos, proporcionais aos custos de aquisição.

Por outro lado, para ficar apenas nos chamados custos operacionais, base para precificação do frete, o consumo de combustível e de pneus é muito além dos patamares conhecidos e aumentam exponencialmente com o peso das cargas transportadas

Para Antônio Silveira, da Nextrans, a possível ideia de que o frete de carga de projeto é caro, está diretamente relacionada ao desconhecimento por parte do contratante, em especial, ainda na fase de projeto do produto, não só  dos custos operacionais mencionados acima, como também dos elevados custos e, ainda, mais difíceis de serem precificados, relacionados as más condições da infraestrutura de transportes, a falta de informação sobre as condições das rodovias, sobre a capacidade de pontes e viadutos, a total falta de estrutura dos órgãos públicos e de como essas deficiências impactam a movimentação de cargas indivisíveis nas três fases do processo: na definição do itinerário, na obtenção de AET e na execução propriamente dita do transporte, aumentando a quantidade de horas de trabalho, do tempo de travessia e, por consequência, os custos;


Para João Batista Dominici, presidente da Logispesa, o contratante de frete de carga de projeto, não pode, nem deve, deixar de levar em consideração, ainda na fase de projeto, da sua produção, que no Brasil:

- A densidade da malha rodoviária é uma das mais baixas do mundo, inclusive da América Latina:
- Apenas 10,6% das rodovias federais são duplicadas
- 87,6% das rodovias federais, são de de pistas simples
- Menos de 50% do pavimento se apresenta em boas condições de uso
- 20% das pontes e viadutos apresentam limitação de peso
- O gabarito vertical de pontes e viadutos médio é em torno de 5,30m de altura
- Pouco menos de 40% das rodovias possuem acostamento
- Existem centenas de trechos com pontos críticos: quedas de barreira, pontes caídas, erosões na pista, buracos grandes
- 22.079 quilômetros das rodovias são concedidas, mais ainda assim, pelo menos 25% desse total apresenta-se em estado péssimo ou ruim de conservação
- Pelo menos 76,3% das rodovias apresenta algum tipo de problema relacionado à Geometria da Via

E, obviamente, dos impactos que essas ineficiências tem sobre o orçamento do frete, como: 

- Aumento da distância de transportes
- Aumento adicional médio de 28,5% dos custos de operação
- Custos elevados com tarifas pelo uso da via, como TUV, TAP, Escolta
- Aumento da dificuldade para roteirização do transporte
- Aumento da Exigência de EVE - Estudo de Viabilidade Estrutural
- Aumento da Exigência de EVG - Estudo de Viabilidade Geométrica
- Redução dos pesos máximos permitidos e da capacidade de carga dos veículos
- Aumento de exigências de plano de Trafegabilidade
- Aumento do tempo para resposta ás consultas sobre viabilidade do transporte
- Aumento da quebra dos veículos
- Redução da velocidade operacional
- Aumento do tempo de viagem
- Aumento dos custos com escolta policial e credenciada
- Aumento dos riscos à segurança dos usuários
- Desperdício de bilhões de litros de diesel por causa só da inadequação do pavimento
- Quase R$ 10 bilhões de prejuízos com veículos, cargas, despesas médico hospitalares e perda de produção das vítimas

Mas, também que:

- Mais de 70% dos órgãos rodoviários não dispõem de sistemas digitais de concessão de AET
- Menos de 10% dos órgãos possuem regulamentos específicos sobre concessão de AET
- Nenhum órgão disponibiliza informação sobre limitação de pontes, gabaritos verticais e horizontais
- Acima de determinados limites de peso e dimensões qualquer pedido de AET depende de consulta a residentes sem prazo de resposta
- Não há qualquer uniformização com relação aos pesos máximos permitidos
- Não há critérios para exigência de EVG ou EVE, nem prazo para análise
- A maioria dos órgãos sequer dispõe de um departamento de concessão de AET
- Não há qualquer padronização com relação aos requisitos exigidos
- Não há qualquer padronização com relação às taxas e tarifas incidentes sobre concessão da AET, Escolta Policial e TUV
- Não há qualquer padronização sobre os limites para concessão de AET com validade anual
- Na maioria dos órgãos não há definição de prazos para concessão de AET
- Em MG, além de EVG e EVE pode ser exigido Plano de Estabilidade Veícular e da Carga
- Em estados como MA, RN, SE, PA é praticamente impossível falar ou obter qualquer informação sobre obtenção de AET
- Nenhum dos estados a seguir: RJ, MG, MT, MS, PE, PA, PB, PI, MA dispõem de requisitos formais para concessão de AET

E de como essas ineficiências de ordem burocrática, também impactam os custos finais do frete, devido:

- Aumento da dificuldade para fazer o dimensionamento do veículo;
- Maior dificuldade para roteirização do percurso;
- Maior ou menor dificuldade  para atendimento aos requisitos formais e informais necessários;
- Maior dificuldade para definir, com precisão, o tempo total da operação;
- Dificuldade para identificação, cálculo e pagamento de taxas e tarifas;
- Dependência de despachantes;
- Dificuldade para agendamento e/ou acionamento de escolta policial;
- Custos com estadia.

Agora que já sabemos porque o frete de carga de projeto é caro no Brasil, que tal nos juntarmos todos e trabalharmos em conjunto para mitigar essas ineficiências, apoiando e ao mesmo tempo cobrando políticas públicas para esse segmento, melhorando o planejamento das nossas operações, sendo mais transparentes em nossas negociações?

FONTE: Logispesa

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