Facchini


Prosperidade no setor de transportes não chega ao caminhoneiro autônomo

Vipal/Divulgação
Enquanto indústria comemora recorde de caminhões vendidos em 2019, representante dos motoristas lamenta desrespeito a conquistas da greve do ano passado.

“O frete está mais baixo do que na época da greve e o óleo diesel está mais caro”. Quem afirma isso é José Araújo Silva, o China, presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), entidade com sede em Brasília e São Paulo, que representa os caminhoneiros autônomos.

De acordo com a liderança, apesar das conquistas da categoria após a greve deflagrada em março de 2018, os principais compromissos não saíram do papel. A saber: óleo diesel mais barato, respeito à tabela mínima de frete e contratação de transportadores autônomos por parte do Governo Federal em ao menos 30% dos fretes. E completa: “A frota dos autônomos tem, em média, 25 anos. Precisamos de linhas de créditos efetivas para essa categoria, como já tivemos no passado”.

As vendas de caminhões dispararam em 2019, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo pesquisa da entidade, até outubro deste ano foram emplacados 83,7 mil caminhões no Brasil, um número 37,9% superior a 2018. Com isso, outros atores da cadeia também comemoram. É o caso das fabricantes de implementos rodoviários (carrocerias, por exemplo). A compra desses equipamentos acumulou alta de 37%.

China reclama que todo esse potencial econômico fica muito concentrado e não atinge a ponta do setor do Transporte Rodoviário de Cargas: o caminhoneiro. Para ele, esse investimento das empresas em novos caminhões também poderia repercutir em melhor remuneração para os motoristas, que lutam para que seja respeitada a Tabela Mínima do Frete. “Nunca [essa lei] foi cumprida à risca e agora o debate é sobre a legalidade da tabela”.


Em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou decisão sobre a constitucionalidade da medida, que visa estipular cálculos mínimos para o frete, levando em consideração, entre outras variáveis, não só o tipo de carga, mas também o retorno do caminhoneiro sem carregamento. O motorista, por diversas vezes, para não voltar sem carga para a sua região de origem passa muitos dias na cidade de entrega, esperando um novo frete que nem sempre aparece. “Essa humilhação acabaria se o valor pago fosse mais justo”, constata China, que vai participar de audiência pública promovida pela Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT) sobre a Tabela Mínima do Frete, dia 22 de novembro, em Brasília.

Desde agosto de 2019, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), comunicou as instituições financeiras credenciadas a respeito do Programa BNDES Crédito Caminhoneiro, que oferta recursos a motoristas autônomos de até R$ 100 mil, seja para investir em manutenção ou para a compra de veículos. A União Nacional dos Caminhoneiros constatou que nenhum banco nacional tem oferecido o crédito. Apenas duas instituições credenciadas estão com o programa em seu portfólio: o Banco do Paraná e a cooperativa Sicredi.

China defende que a situação apenas se resolverá com uma união nacional em prol da categoria. “Chegou a hora de embarcadores, transportadores, motoristas, entidades de classe e governo se reunirem, respeitando-se uns aos outros, para ajudar essa categoria que não vai aguentar muito mais tempo essa situação financeira precária”, finaliza.
FONTE: UNICAM
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