Facchini

Fenabrave vê recuperação só no 4º trimestre

Já se passaram dois meses do segundo semestre e o mercado de veículos leves e pesados ainda não dá sinais de recuperação. No acumulado de janeiro a agosto deste ano houve queda de 9,7% nas vendas, de 2,4 milhões de unidades entregues em igual intervalo do ano passado para 2,2 milhões este ano. Na avaliação da Fenabrave, federação que representa os distribuidores de veículos, a retomada só deve acontecer no quarto e último trimestre de 2014, em cenário mais estável após as eleições. 
- Veja as estatísticas da Fenabrave aqui
Durante reunião com jornalistas na terça-feira, 2, Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave, comentou que os meses de julho e agosto ficaram abaixo das expectativas, impossibilitando o crescimento de 5% projetado para o segundo semestre em relação ao primeiro. O executivo aponta que, mesmo com as medidas de redução dos depósitos compulsórios anunciadas pelo Banco Central no fim de agosto (leia aqui), a reanimação é lenta. 
“A barreira do crédito continua a ser um limitador em cenário de alta volatilidade, que tende a sinalizar mudanças somente a partir de outubro. Infelizmente, as notícias negativas em relação ao PIB continuam a mexer com o humor do mercado e com a confiança dos consumidores. Somado a isso, muitas famílias ainda estão endividadas, apesar de haver queda na inadimplência.” 
A entidade prefere esperar até outubro para rever a sua projeção atual, de queda de 7% para veículos leves e de 14% para pesados este ano. “Já estamos com retração superior a isso, mas ainda não temos um cenário consistente para dizer quanto as vendas irão cair”, avalia Meneghetti. 
Para Fenabrave, mais do que impacto das eleições - que na visão do presidente influenciam apenas o comportamento dos empresários brasileiros e não dos consumidores -, o último trimestre pode ser aguardado com esperança por causa de medida provisória que tende a facilitar a retomada de veículos de clientes inadimplentes. Essa era uma das principais dificuldades para se aumentar a concessão de crédito no setor. Segundo Meneghetti, no Brasil são localizados apenas 15% dos veículos com atraso nos pagamentos e o processo de retomada leva 210 dias, em média. Esse era um custo não coberto pela própria garantia da operação: o carro. 
Para recuperar o veículo a instituição financeira credora precisa entrar com uma ação judicial para retomar o veículo. Pela proposta a ser encaminhada ao Congresso, o governo retira essa obrigação e assim facilita a retomada de bens móveis (carros, caminhonetes, caminhões, ônibus, tratores e máquinas agrícolas) em caso de inadimplência. O tomador do empréstimo poderá autorizar diretamente a recuperação do bem financiado em caso de atraso nos pagamentos, dispensando ações na Justiça. A medida beneficiará operações sem garantia de até R$ 100 mil e operações com garantia de até R$ 50 mil. Acima desses valores, continua a necessidade de cobrança judicial. 
Meneghetti diz que a medida deve entrar em vigor até novembro e beneficiará os bons pagadores, que tendem a conseguir financiamentos com juros mais baixos e maior segurança jurídica. “Nossas expectativas estão concentradas na modernização da lei de retomada do bem. É uma mudança importante e que gerará benefícios ao consumidor, à indústria e ao próprio governo, que volta a recolher mais impostos com o aumento das vendas.” 
A realização do Salão do Automóvel em outubro também é visto pela Fenabrave como estímulo para o último trimestre. Além disso, o aumento do IPI previsto para janeiro deve contribuir para o adiantamento das vendas em dezembro. “Independentemente de quem vencer a eleição, o novo governo não deve manter o imposto nos níveis atuais no ano que vem.” 
Para o setor de caminhões, ainda mais impactado pela queda da atividade econômica, a única esperança vem da proposta de renovação de frota, mas a iniciativa só deve sair do papel no ano que vem. De acordo com Meneghetti, o decreto está em fase de elaboração e deve ser publicado somente depois das eleições. 
“Tudo indica que a renovação de frota começa no início do próximo ano, mesmo com a possível mudança de governo. Somos o quinto maior mercado e já está mais do que na hora de termos uma política de reciclagem de veículos”, comenta Meneghetti. Segundo Alarico Assunção Jr., presidente executivo da Fenabrave, o Inmetro e o Denatran também vão participar do projeto ajudando na regulamentação dos desmanches e dos veículos a serem reciclados. 

O DESEMPENHO DOS SEGMENTOS 
Considerando apenas o segmento de veículos leves, as vendas caíram 7,4% de julho a agosto, passando de 279,8 mil unidades para 259,1 mil neste último mês. Na comparação entre os meses de agosto deste ano com o do ano passado a queda é maior, de 17,1%, segundo os números da Fenabrave. 
Meneghetti lembra que agosto último teve menos dias úteis. Foram 21 contra 23 em julho. Contudo, julho deveria ter sido mais impactado por causa da Copa do Mundo em suas duas primeiras semanas e também pelo feriado de 9 de julho em São Paulo, o maior mercado do País. Na média diária de emplacamentos houve até um leve crescimento, de 1,4%, de 12.165 para 12.338 lacrações de veículos leves por dia útil. Ainda assim, o avanço é menor do que o esperado pela entidade. 
No intervalo de janeiro a agosto, foram 2,12 milhões de veículos leves emplacados, volume que representa retração de 9,5% em relação a igual período do ano passado. A queda é ainda mais profunda do que a observada no acumulado de janeiro a julho, de 8,5%, o que motiva a Fenabrave a fazer uma nova projeção. 
“Os níveis de estoques estão caindo, mais ainda assim são elevados. As montadoras maiores têm volume equivalente a 50 dias de vendas, enquanto as menores estocam por cerca de 35 dias”, aponta Meneghetti. 
O segmento de pesados registrou queda de 10,8% de julho para agosto, de 14,9 mil unidades para 13,3 mil. Na comparação com agosto do ano passado, a retração foi de 19%. No acumulado do ano, 108,5 mil caminhões e ônibus foram lacrados, volume 13,8% menor do que o emplacado em 2013, de pouco mais de 126 mil unidades. “Com o PIB fraco as vendas de veículos comerciais estão sendo fortemente afetadas. Temos produtos disponíveis, temos crédito, temos compradores, mas temos menos carga para transportar”, observa o presidente executivo. 
FONTE: Automotive Business 
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