Facchini

Apagão da mão de obra: empresas do PR cogitam contratar motoristas estrangeiros

Transporte é essencial para a vida? Pode não ser tão primordial como a presença de um médico em uma unidade hospitalar, mas é com esta prestação de serviço que todas as outras atividades humanas se tornam viáveis e abastecidas. Assim, não é exagero comparar o apagão de mão de obra do setor, com a falta de motoristas de caminhão, com a crise do setor de saúde brasileiro. A crônica falta de motoristas está gerando um efeito parecido com o programa Mais Médicos, do governo federal, que busca profissionais da saúde em outros países para atender às necessidades da população brasileira.
E é justamente isso que o SETCEPAR, Sindicato paranaense que representa as empresas de transporte rodoviário de cargas está considerando para fazer frente ao déficit de mais de cinco mil motoristas no Estado. A ação dos transportadores do Paraná se justifica pelo estado crítico em que se encontram algumas empresas associadas ao Sindicato, como conta o presidente, Gilberto Cantu: “Além da óbvia falta de infraestrutura e segurança nas estradas, o que mais chama atenção é que no passado o filho do motorista quase invariavelmente seguia a profissão do pai. Desde alguns anos atrás esse incentivo foi interrompido, acabou o estímulo. Aliado a isso, não houve por parte do setor um incentivo de captação de profissionais, ou seja, os órgãos relacionados não se atentaram a esse crescente desinteresse. Somente com essa alta demanda por mão-de-obra foi possível constatar o agravamento disso com clareza”, explica.
Sabendo que um motorista de caminhão leva algum tempo para se tornar apto e qualificado para exercer a profissão com total domínio, a entidade paranaense está enxergando a captação de mão-de-obra estrangeira como o recurso mais imediato, apesar de ainda estar em fase de experimentação.
“Até o final do ano nós devemos ter alguns profissionais de fora já adequados ao transporte rodoviário brasileiro. Estamos analisando cerca de 100 currículos de profissionais de países como Argentina, Colômbia e Paraguai, onde encontramos uma qualidade interessante”, explica Cantu. Nós pretendemos treinar os selecionados, cuidar de toda a parte burocrática e encaixá-lo em alguma empresa associada ao SETCEPAR. Então, primeiramente serão cerca de 20 profissionais”.

Captação e capacitação
O dirigente está otimista com a iniciativa e acredita que a contratação de estrangeiros possa valer também para outras entidades de outros estados que também carecem de mão-de-obra. Já sobre a desmotivação do brasileiro em relação à profissão de motorista de caminhão, Cantu ressalta o papel das entidades para atrair esses futuros profissionais.
“É necessário observar que essa é uma profissão que veio sendo valorizada. Atualmente temos salários que chegam a R$ 5 mil, então, nesse aspecto, é uma boa opção. Hoje, os veículos que o transportador conduz para as empresas têm um alto grau de conforto. Por outro lado, a pessoa tem que realmente gostar de viajar e saber que essa é uma profissão de risco”, pontua.
O SEST/SENAT vem trabalhando em cima desse aspecto ao fornecer cursos profissionalizantes para capacitar futuros profissionais. Por meio do Pronatec (Programana Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), a entidade aperfeiçoou um curso de capacitação voltado para jovens com pouca experiência no volante ou para motoristas com experiência que não conhecem as novas tecnologias inseridas nos veículos.
A CNT (Confederação Nacional do Transporte) também lançou um curso para formação de motoristas ainda no ensino médio. A ideia é habilitar jovens que acabaram de completar 18 anos a dirigirem caminhões pequenos para após cinco anos estar apto a dirigir carretas e bitrens.
“Estamos passando por um período de transformação, e para esse problema de carência a solução mais viável pensando em longo prazo é qualificar o profissional desde cedo. A ideia é fazer com que o futuro transportador migre de veículos menores até chegar a transportar com segurança um grande caminhão, sempre com qualidade”, conclui Gilberto Cantu.
Parece pouco ainda, diante do déficit de motoristas que o Brasil tem atualmente. De acordo com as entidades do setor, o transporte rodoviário brasileiro tem cerca de 100 mil vagas de motoristas de caminhão abertas, sem candidatos para preencher. Pelo jeito, o setor vai precisar buscar uma verdadeira legião de motoristas estrangeiros. Será que a solução está neste exemplo do Paraná?

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