Facchini


Com Finame abaixo da inflação, mercado tem retomada e já se fala em falta de caminhões

Definitivamente, 2012 não foi um ano memorável para o mercado de caminhões do Brasil. As normas do Proconve P7 tornaram um cenário que era extremamente favorável em dezembro de 2011 numa avalanche de incertezas. Menos mal que ao longo do ano o governo se mostrou atento ao problema e lançou uma sequência de pacotes de medidas para incentivar o consumo, sendo que a última, e mais agressiva medida, foi importantíssima para dar vida nova à indústria.
No final de setembro, passou a vigorar uma nova taxa do Finame, de 2,5% ao ano. Desde então, o número de consultas nas concessionárias só fez crescer. Consequentemente, os pedidos de aprovação de crédito. A expectativa do setor passou rapidamente de pessimista para otimista. Com esta taxa, praticamente negativa, transportadores e autônomos se lançaram às compras. No entanto, como a queda ao longo de 2012 forçou as marcas a reduzirem a produção, a retomada deve vir acompanhada de uma eventual falta de caminhões em alguns segmentos pontuais, que tiverem um crescimento mais acentuado.
Ricardo Alouche, diretor de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da MAN Latin America, explica que como a indústria se adaptou à demanda do mercado, as fornecedoras das fabricantes também se adaptaram a esta mudança e, caso a recuperação seja confirmada, alguns modelos podem ficar mais difíceis de serem encontrados. “A produção não retoma na mesma velocidade das vendas. Hoje não falta produto, mas até o mês de dezembro pode faltar, principalmente em alguns setores específicos”, afirmou o executivo. “O segmento de extrapesados tem apresentado uma recuperação mais rápida. Não posso dizer que irá faltar, mas reagiu mais rápido. Se este ritmo de vendas continuar provavelmente vamos sentir escassez de produto”, revelou.

Diretor comercial da Iveco, Alcides Cavalcanti reforça a expectativa com base em uma análise em cima dos clientes. “Muitos clientes desse segmento (pesados e extrapesados) não haviam feito sua programação de renovação de frota, e agora com essa taxa (2,5%) vieram com força às compras. Com isso, os estoques e a produção rapidamente foram negociados e alguns modelos só têm previsão de entrega em janeiro ou fevereiro”, explicou o executivo da marca italiana.
Entretanto, mesmo com a análise, os executivos do setor se mostram animados com a alta nas consultas, que já começam a se traduzir em vendas. “O recente anúncio do governo de baixar os juros do financiamento de veículos comerciais para incentivar as vendas do mercado é bem-vinda”, afirmou Roberto Leoncini, diretor-geral da Scania do Brasil. “O governo demonstra estar atento à situação do segmento. Acreditamos que as vendas do setor devem reagir positivamente mediante os esforços em cortar impostos e oferecer empréstimos subsidiados. Além disso, ações em outros segmentos já refletiram positivamente para o crescimento da economia, o que indiretamente também beneficia o setor de caminhões. Essa lógica é simples: se há mercadoria a ser transportada, há demanda por caminhões”, concluiu.
Em consulta com o Banco Mercedes-Benz, a reportagem constatou que o número de entradas de financiamentos quase quadriplicou na última semana de setembro, quando a taxa a 2,5% passou a vigorar, em relação com a média semanal de pedidos de financiamento do mês. A Concessionária Tietê, que comercializa os produtos da MAN Latin America, também revelou uma expectativa positiva em função do crédito mais leve ao consumidor e da antecipação de compras de 2013, reflexo da medida do governo.
Mesmo animado, o mercado segue cauteloso. Além da falta de caminhões, há outros dois fatores que podem evitar que o número de emplacamentos, considerado como o método oficial de análise de vendas, dispare no último trimestre de 2012. O primeiro deles é a inadimplência. Apesar das taxas baixas, o resfriamento da economia em 2012 fez com que muitos clientes deixassem de honrar os pagamentos. Com isso, os bancos passaram a aprovar um número menor de financiamentos, sendo mais seletivos na liberação de crédito. “Temos muitos clientes que fecharam a compra, mas na hora H não tem a aprovação de crédito. Estamos negociando com os bancos para reverter esse cenário”, disse Ricardo Alouche.
O outro fator é o tempo entre o ato da compra e a entrega do caminhão, emplacado, ao consumidor. Marcel Bueno, Supervisor de Marketing e Vendas da Ford Caminhões, espera uma recuperação boa neste período, mas explica que os números podem demorar a serem vistos. “Quando o governo anunciou o Finame novo, ficamos praticamente três semanas sem as regras de fato serem aplicadas, até os bancos operacionalizarem com a nova taxa, e essa começou no final de setembro. Mas um caminhão demora para ser emplacado. Ele sai da montadora inacabado, vai para a implementadora e aí então vai para o emplacamento. É um período de 30, 45 dias para ele aparecer como emplacado. Vai haver um atraso para que nós possamos ver essa alteração na indústria”.
Esta demora por resultados pode acabar em algo positivo para a indústria: a prorrogação da taxa a 2,5% ao ano. Ao menos esta é a expectativa de todos os executivos do setor. “Hoje trabalhamos com a taxa até dezembro. Sempre contamos que o governo olha o segmento de perto, e que se o mercado ainda precisar deste incentivo de taxa, acreditamos que o governo mantenha o Finame a 2,5%, que é responsável 85% a 90% dos negócios”, afirmou Marcel Bueno.
Pensamento semelhante ao de Ricardo Alouche, que também trabalha com a realidade, mas torce pela manutenção da medida. “Tenho expectativas pessoais, mas para falar que o governo vai prorrogar o programa não posso dizer. Por isso eu trabalho com o oficial, que é que em 31 de dezembro acaba o programa”. A Iveco também torce para que esta taxa siga em 2013. “É muito importante que o transportador tenha condições diferenciadas para a aquisição e renovação de sua frota em um momento em que a economia dá sinais de recuperação. Frota nova significa menores custos para o transportador, mais segurança nas estradas além de benefícios para a economia em geral”, disse Alcides Cavalcanti.
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