Facchini

Na contramão do crescimento

A principal rota para o escoamento da produção agrícola do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e também do vizinho Paraguai precisa ser duplicada com urgência. A obra na BR-277 - rodovia que corta o território paranaense e desemboca no Porto de Paranaguá - é pivô de um impasse entre as concessionárias que a administram e o governo estadual.
Uma das polêmicas começou em 2000, quando a duplicação de um trecho com 80 quilômetros (entre Cascavel e Medianeira) foi excluída do contrato original de concessão, ocorrida em 1997. Isso aconteceu em virtude dos prejuízos que a empresa que administra a via registrou em 18 meses, período em que a tarifa de pedágio foi reduzida pelo governo à metade.
O trecho é apontado por especialistas como um dos que precisa de reparos com mais urgência. Para se ter uma ideia, apenas no ano passado, 50 pessoas morreram no trajeto. Entretanto, a duplicação não é bem-vinda apenas neste percurso. De acordo com números da Secretaria de Estado de Transportes, dos 730 quilômetros de extensão da estrada, apenas 200 estão duplicados.
"Diversos fatores justificam a implantação de pista dupla em toda a extensão da rodovia. Entre eles estão o alto volume de tráfego, o baixo nível de serviço (comparação entre fluxo e infraestrutura) e a segurança", argumenta Djalma Martins Pereira, professor do departamento de transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Diversos fatores, como o alto volume de tráfego, segurança e o baixo nível de serviços, entre outros, justificam a implantação de pista dupla na BR-277
Para o especialista, fazer com que a via seja duplicada é uma questão de negociação. "Acredito que o governo e as concessionárias possam entrar em um acordo e viabilizar o projeto", destaca o professor, fazendo referência aos 140 processos judiciais que foram paralisados por 180 dias para que a iniciativa privada e o governo estadual possam resolver impasses sobre a redução nos valores do pedágio e a inclusão de obras viárias nos contratos de concessão. Entretanto, fazer uma obra como essa custa caro. De acordo com Evandro Viana, diretor-superintendente da EcoCataratas, uma das concessionárias que administra a BR-277, cada quilômetro de duplicação depende de um investimento que varia entre R$ 2,8 milhões e R$ 3,8 milhões. Segundo o executivo, mesmo não sendo de responsabilidade da concessionária, a EcoCataratas desenvolveu um projeto para duplicar 91 quilômetros da rodovia, trecho entre Medianeira até a chegada à Ferroeste - sistema ferroviário paranaense. Segundo ele, o projeto já está pronto, mas depende do diálogo com a esfera pública.
Viana destaca ainda que para fazer a obra no trecho serão necessários pelo menos quatro anos. Conforme suas explicações, o programa prevê a instalação de pista dupla em 22 quilômetros ao ano. "Seria ótimo fazer em um ano, mas não é possível", destaca.
Mesmo com soluções que, ao que tudo indica, levarão certo tempo para serem finalizadas, José Richa Filho, secretário de transportes do Estado, garantiu, recentemente, que é prioridade do governo paranaense a duplicação da BR-277. Entretanto, admitiu que "o ideal seria duplicar toda a malha do Anel de Integração (que possui 2.493 km de extensão)". Procurado pela reportagem da Revista O Carreteiro, o secretário afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que o Estado está negociando com as concessionárias, porém não forneceu detalhes sobre esta transação.
No setor de transporte, a duplicação é bem recebida. Gilberto Antonio Cantu, presidente do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná), garante que, sem dúvida, a obra na BR-277 trará benefícios ao transportador. "Será muito bom, tanto na redução de custo operacional quanto no aumento da segurança ao carreteiro e no maior conforto ao motorista em geral. Porém, como nosso pedágio é extremamente caro, tem que cuidar desta relação custo x benefício para que o transporte não sofra com o custo elevado em relação aos outros Estados", alerta.
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