A famosa frase “mulher no volante, perigo constante” está cada vez mais fora do vocabulário dos profissionais do setor de transporte, principalmente após as mulheres terem conquistado um espaço extremamente dominando pelos homens, como o de motoristas de caminhão, inclusive, de grandes transportadoras. O desbravamento feminino que, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), começou na Grécia antiga - ainda durante a Revolução Francesa - e tornou o dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher, conquistou inúmeras áreas e atualmente chegou também às estradas.
Prova disso ocorreu na transportadora Braspress. Em 1998, a companhia desenvolveu uma estratégia de marketing: contratar mulheres para dirigir os caminhões da empresa no estado de Minas Gerais. “A empresa estimou contratar entre seis e sete mulheres, mas elas nos surpreenderam”, conta Luiz Carlos Lopes, diretor de operações da Braspress. Segundo Lopes, os resultados apresentados pelas novas condutoras chamaram a atenção da empresa. Houve redução de consumo de combustível, custos operacionais e acidentes. Até a vaidade feminina natural foi positiva nesse sentido. “Por sua própria natureza, a mulher se preocupa mais com a aparência, e isso ajudou na receptividade dos clientes da empresa”, afirma Lopes.
Dos 52 anos de idade de Neide Araújo, 10 foram dedicados a Braspress. Entre as motoristas mais antigas na transportadora, Neide admite ter ficado assustada no início da carreira. “No primeiro dia de trabalho eu fiquei com muito medo de enfrentar o trânsito da cidade dirigindo um caminhão, mas com o passar dos dias, acabei pegando o jeito”, comenta. Embora dirija muito bem, geralmente um Mercedes-Benz 710, a motorista da Braspress diz já ter ouvido diversos comentários machistas. “Muitos motoristas diziam no começo que eu estava tirando o lugar dos homens, perguntavam se eu não tinha vergonha de falar que era ‘caminhoneira’”. A motorista conta ainda que durante uma entrega de carga num supermercado, ao estacionar o caminhão, o gerente da loja resmungou e soltou: “só podia ser mulher mesmo. Vocês têm que pilotar é fogão”. “Eu fiquei irritada, mas hoje em dia não me importo”, diz Neide.
Divorciada, com quatro filhas e três netos, Neide precisou superar obstáculos para exercer a profissão. Embora admita ter sido o salário o principal atrativo da oportunidade, ela garante adorar essa função, que já chegou a ser ocupada por 56% de motoristas mulheres na Braspress.
Luiz Carlos Lopes faz questão de dizer que na Braspress tanto mulheres, quanto homens, recebem salário igual, de acordo com a função exercida. “Nosso slogan é: competência não tem sexo”, diz Lopes. Segundo o diretor, esse setor vai abrir muitas oportunidades para as mulheres. “A única coisa que distancia a mulher de ser motorista é a falta de informação. Além disso, o caminhão tem conceitos errados de ser algo bruto, devido ao tamanho”, explica Lopes.
A Braspress, que hoje conta com 264 motoristas mulheres, de um total de 757 profissionais do volante, ainda está em período de contratação. Ao todo foram abertas 39 vagas em várias cidades do país onde a Braspress mantém filiais.
FONTE: Revista Transporte Mundial