Nos últimos anos, o mercado de trabalho brasileiro cresceu e se sofisticou. Mesmo em atividades que não exigiam muito estudo, agora é preciso saber usar um computador, por exemplo. Qualificação é o tema da reportagem desta quinta-feira (17) na série especial que o Jornal Nacional apresenta, nesta semana, sobre o emprego no Brasil.
Imagine passar cinco dias por semana na estrada. “É a vida que a gente escolheu, a gente tem que seguir ela”, afirma o caminhoneiro Antônio de Souza Silva.
Filho de caminhoneiro, Antônio conhece as dificuldades da profissão, mas gosta do trabalho e sabe que precisa estar preparado. “Porque não é só dizer que vai dirigir. Se você não sabe mexer no computador de bordo, ele não sai”, revela.
Com teclado e mostradores digitais, os caminhões estão, cada dia, mais tecnológicos. Para conhecer melhor a máquina, Antônio foi para uma escola, encaminhado pela empresa onde trabalha. “Eu não tenho qualificação em nada. Aí ela me trouxe até aqui para ficar um profissional no jeito que ela quer”, conta.
Ele viajou quatro mil quilômetros do Ceará até o Rio Grande do Sul para se qualificar. Walace veio de Pernambuco. O caminhoneiro Paulo Ricardo Testa veio do Paraná e ressalta: “no mercado, está faltando muito motorista que tenha experiência não só de estrada, mas que tenha acompanhado as novas tecnologias”.
“Tem empresa com um monte de caminhão parado por falta de mão de obra. E um caminhão, um equipamento de R$ 500, R$ 600, R$ 700 mil, parado dentro do pátio, convenhamos que é um péssimo investimento”, declara o instrutor de mecânica Marcelo Padilha.
A estimativa é que, em dez anos, o Brasil precise de mais um milhão de carreteiros, mas faltam centros de treinamento. Um deles, em Vacaria, na Serra Gaúcha, é um dos poucos no país. Foi criado por transportadoras preocupadas com a falta de motoristas. “Como praticamente 65% de todo transporte é rodoviário, é feito por modal rodoviário, nós achamos que irá acontecer um incremento muito grande nessa atividade”, aponta o coordenador do Centro Treinamento, Renato Luís Rossato.
Esse é o caminho que muitas empresas já estão seguindo no país: buscando por conta própria a formação de profissionais. Se o destino é o crescimento econômico e o aumento da produção, precisamos decidir como queremos chegar lá: se pela velha estrada já gasta, cheia de buracos, que pode levar a prejuízos, ou pela pavimentada, visivelmente melhor, mas, que exige mais tempo e investimentos.
Assim também é com a mão de obra. A melhor não fica pronta da noite para o dia e precisa de manutenção. “Nós temos que valorizar o profissional técnico e as escolas técnicas, expandir essa rede de escolas técnicas para oferecer vagas, porque hoje não conseguem suprir”, diz o professor Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral.
O problema é tão grave que as empresas estão contratando jovens antes mesmo de terminarem o curso. “Já estou empregada, e o objetivo que eu tenho é de concluir o curso e já continuar na própria empresa”, afirma uma mulher.
“Para se ter uma ideia, a gente está começando agora as aulas. Praticamente 70% dos alunos que estão começando o primeiro dia de aula já estão empregados”, declara o gerente educação profissional do Senai de Minas Gerais, Edmar de Alcântara.
Na turma de técnicos em mecânica ferroviária, no Senai, em Belo Horizonte, os 11 alunos já foram contratados. A coordenadora de seleção de pessoas Fabrícia Gomes de Oliveira sempre recruta profissionais no local para a empresa dela. Ainda assim, ela tem que investir em treinamento. “Temos tido bons resultados, mas a gente observa que ainda há uma demanda por uma continuidade de qualificação, quando esses profissionais chegam até a empresa”, revela.
“A gente está vivenciando algumas modificações no mercado que são importantes. Quando a gente vai pensar na construção civil, o tipo de emprego que está sendo exigido é aquela pessoa que saiba trabalhar com novos materiais, um porteiro que precisa de um pouquinho de informação de informática, porque ele tem que olhar para algumas telas, entender ali a questão de segurança”, destaca o professor Márcio Salvato, do Ibmec.
Novas qualificações, mesmo em antigas profissões, é um investimento inevitável de quem quer pegar carona no crescimento econômico do país. “Por isso que a empresa está me dando essa oportunidade de pagar esse curso para mim, para pegar mais conhecimento, ter mais qualificação no mercado. Eu estou muito satisfeito”, diz o caminhoneiro Antônio de Souza Silva.
A dificuldade do Brasil em formar profissionais qualificados é o tema desta sexta-feira (18).
FONTE: Jornal Nacional