Facchini

Valor de salário não atrai carreteiro

Baixos salários aliados a uma carga excessiva de trabalho têm afugentado os motoristas carreteiros das empresas transportadoras e, em alguns casos, gerado a desistência da profissão. O reflexo disso já pode ser percebido na região com a escassez da mão de obra. Hoje, cerca de 500 carretas estão paradas no Triângulo Mineiro por falta de profissionais. Vagas de emprego sobram nas transportadoras e, no Sine de Uberlândia, onde existem 60 ofertas. A média de salário é R$ 1,5 mil mensais, mais benefícios como plano de saúde e odontológico, proposta que não é considerada interessante para os profissionais do setor.
Tiago de Oliveira, 27 anos, fez o curso para formação de motoristas carreteiros oferecido gratuitamente pelo Sest/Senat em parceria com o governo estadual. Após 23 dias de aulas, ele recebeu três propostas de trabalho, mas nenhuma o agradou. “Emprego tem fácil, mas o salário é complicado. Em muitos casos, você tem que ficar mais de um mês fora de casa para ganhar R$ 1,8 mil. Preferi ganhar R$ 1,2 mil e viajar pela região. Assim fico, no máximo, um dia fora de casa”, afirmou.
A dificuldade em contratar a mão de obra está chamando a atenção dos empresários do setor. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Triângulo Mineiro (Settrim), Ari de Sousa, afirma que o valor do salário deveria ser mais representativo. “Teremos que encontrar um atrativo para os profissionais, como salário, capacitação. Se isso não acontecer, a escassez da mão de obra vai aumentar e mais motoristas vão comprar o caminhão próprio para trabalhar”, disse.
Para Tiago Oliveira, a profissão se tornou temporária pela falta de valorização. “O negócio é trabalhar e estudar e mais para frente arrumar outra profissão”, afirmou.

Motorista escolhe onde trabalhar
Com o aumento da oferta de vagas, percebe-se uma mudança de comportamento da mão de obra, que agora escolhe onde quer trabalhar. “A situação só piora a cada dia. São tantas oportunidades de emprego que a questão passou a ser o empresário que dá mais pelo trabalhador”, disse a empresária do setor, Lilian Bittar.
O motorista Ionaldo Soares, 54 anos, está desempregado. Após fazer o curso para formação de motoristas carreteiros no Sest/Senat, ele foi contratado por uma empresa, mas dias depois pediu demissão. “O salário era R$ 1,5 mil e mais R$ 567 por mês para alimentação. Eu não concordei, pois este valor não compensa. Estou em busca de um serviço que pague mais decente”, afirmou.
A preocupação dos envolvidos nos setor é a falta de renovação de profissionais. “Hoje todo mundo quer estudar, ninguém quer que o filho seja motorista”, disse Julio Cesar Tavares, gerente de frota de uma empresa.
“O filho de caminhoneiro, não segue mais a profissão do pai, vai para universidade. A frota cresceu e o número de profissionais não”, afirmou o presidente Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Triângulo Mineiro (Settrim), Ari de Sousa.
Para Antônio Mauri, 45, motorista há 23, a profissão só compensa para quem já está nela. “É a única coisa que sabemos fazer. Agora para quem quer começar na profissão, digo que não vale a pena”, disse.

Curso deve formar 140 profissionais
O curso para formação de motoristas carreteiros oferecido gratuitamente pelo Sest/Senat em parceria com o governo estadual formou 140 profissionais no ano passado. Para este ano, a expectativa é formar o dobro. “Estou pedindo ao governo subsídio para mais 160 alunos neste primeiro semestre. Novas empresas estão chegando, precisamos formar motoristas”, disse Dayse Afonso, superintendente do Sine.
Segundo ela, a escassez de profissionais pode ser atribuída aos altos gastos para a formação. Hoje, tirar uma carteira de motorista categoria E, que permite dirigir carretas, custa cerca de R$ 1,5 mil. “Muitas pessoas não têm dinheiro para isso. Existem duas soluções: os empresários mudam o raciocínio e investem no trabalhador para ele mudar de carteira ou o governo investir neste sentido”, afirmou.

Carreteiros lamentam desvalorização
Quem está na estrada há anos lamenta a desvalorização dos profissionais do setor. Jorge Correa dos Santos, 49, é motorista há 28 anos. Acostumado a ficar cerca de 50 dias fora de casa, passou o Ano- Novo longe de casa. “A gente se sacrifica para dar conforto à família. Só dessa forma dá para ganhar R$ 2,5 mil, mas vivendo no caminhão”, disse.
Manoel de Godoi, 62, aposentou-se como carreteiro, mas voltou a trabalhar. Recebeu este mês, R$ 2.129, mas com esse dinheiro tem que bancar os gastos durante as viagens, sobrando apenas de R$ 1,5 mil. “Não aguento ficar parado. Mas, pelo tanto que agente trabalha e pela responsabilidade, o salário podia ser melhor”, afirmou.

UBERLÂNDIA
Números do setor de transportes: 
- 500 carretas paradas nas transportadoras do Triângulo Mineiro
- R$ 1,5 mil é a média de salário para motoristas em Uberlândia
- 60 vagas abertas no Sine de Uberlândia para carreteiros

- Cerca de R$ 1,5 mil para tirar uma carteira de motorista categoria E
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