Facchini

A DAF pega no pesado

Os sucessivos recordes nas safras registrados pelos agricultores brasileiros nos últimos anos não estão turbinando apenas o agronegócio. A expansão das commodities agrícolas mexe também com as montadoras de caminhões, beneficiárias diretas do fortalecimento da agricultura, que demanda veículos cada vez maiores e mais potentes para escoar a produção. Só neste ano, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de caminhões extrapesados cresceram 41% até setembro, chegando a 40,81 mil unidades entregues. Esse segmento representa 35% do mercado de veículos pesados no País. 
A pujança e a perspectiva de continuidade do crescimento têm atraído novos competidores para cá. A holandesa DAF é uma delas. A companhia anunciou sua entrada no mercado em 2010, quando iniciou a construção da fábrica. Até dezembro, ela inaugura na cidade de Ponta Grossa, no interior do Paraná, sua primeira unidade na América do Sul. “O Brasil é a prioridade”, afirma o mexicano Marcus Davila, presidente da DAF Brasil. Com experiência no mercado americano e europeu, o executivo tem a missão de levar a empresa a um papel de destaque no mercado nacional. 
Para isso, a matriz da montadora investiu US$ 320 milhões na subsidiária e planeja gastar mais US$ 20 milhões, em 2014, para aumentar o índice de nacionalização dos componentes de seus caminhões. O primeiro veículo da empresa produzido no Brasil saiu da fábrica de Ponta Grossa, que já está operando na fase de testes, no início de outubro. O caminhão conta com 50% de suas peças fabricadas por fornecedores nacionais, o que habilita a DAF a oferecer o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), conhecido como Finame. Essa modalidade de crédito hoje é responsável por 95% das vendas de caminhões pesados no País. 
Segundo Davila, a meta é aumentar o índice de nacionalização para 60% em menos de três anos. Hoje, a empresa importa o motor, peças eletrônicas e o acabamento da cabine. A ideia é comprar de fornecedores nacionais também os bancos e peças plásticas, como painéis. O desenvolvimento de fornecedores, por sinal, é a etapa mais trabalhosa do processo de implantação de uma montadora, segundo Davila. Tanto é que, dos US$ 320 milhões investidos por aqui, US$ 60 milhões foram gastos com os parceiros. Atingir uma participação de mercado relevante, no entanto, não será uma tarefa fácil para os holandeses. “A DAF vai apenas compor elenco, como diz o jargão futebolístico”, afirma Luiz Carlos Mello, consultor automotivo e ex-presidente da Ford do Brasil. 
“Ela não terá força suficiente para desbancar as fabricantes tradicionais.” O segmento de extrapesados no Brasil é liderado pelas suecas Scania, que vendeu 13.187 caminhões entre janeiro e setembro, e Volvo, que entregou, no mesmo período, 11.097 veículos. Além dessas fabricantes, a montadora novata vai enfrentar concorrentes como Ford, Iveco, Mercedes-Benz e MAN. “A maior parte da produção brasileira é transportada por caminhões, por isso, o Brasil é a menina dos olhos das montadoras internacionais”, diz Mello. Para tentar mudar essa imagem de ser um “reserva importante”, a DAF vai abrir até maio do ano que vem 20 concessionárias. A companhia elegeu o interior do País para abrigar as primeiras revendas. 
As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, por enquanto, estão fora dos planos. A prioridade são municípios do Sul do País, grandes produtores agrícolas. Segundo Davila, a montadora fez uma chamada pública e 180 grupos empresariais apresentaram propostas. Desses, treze foram escolhidos para estruturar a rede. Um dos critérios para a escolha foi o conhecimento do mercado de veículos pesados no Brasil, não especificamente caminhões. “O interessante é que as empresas parceiras não vendem caminhão. São especializadas em máquinas pesadas ou implementos rodoviários”, diz o executivo. Ele quer abrir mais 35 concessionárias até 2017 e assim cobrir todo o território nacional. Em 2017, a DAF vai lançar um caminhão semipesado e um leve. A meta é ter 10% do mercado.“Viemos para ficar.” 
FONTE: IstoÉ Dinheiro 
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