A movimentação de cargas urbanas é de grande importância para a economia do país, mas, por muitas vezes, essa movimentação econômica parece estar ameaçada de continuar se desenvolvendo. É só observar a quantidade de restrições que existem no setor de transportes de cargas. O transportador constantemente tem seus negócios afetados devido aos congestionamentos que existem nas grandes metrópoles, assim como dificuldades de acesso devido as más condições de algumas estradas e ainda o problema das restrições aos veículos de carga, que cresce e se espalha pelas principais vias e marginais da cidade.
As restrições atingem também a vida e o trabalho dos motoristas, que têm que encontrar medidas para continuar seu trabalho, já que eles não podem trafegar nas marginais e nas principais vias da cidade de 2° a 6° feira das 05h às 9h e das 17h às 22h, e aos sábados, das 10h às 14h. Sendo assim, eles se vêem obrigados a trabalhar em períodos noturnos para não correr o risco de serem multados, o que causa muito medo e problemas, pois nesses períodos o índice de assaltos e roubo de cargas é maior, por ter uma movimentação menor nas estradas, com isso, o caminhoneiro está exposto aos perigos do transporte noturno e a falta de segurança representada pelo transporte em horários inadequados para ele.
Os transportadores e os caminhoneiros tentam encontrar outras medidas para trabalhar, pois se não obedecerem às normas de trânsito estarão passíveis de autuação por transitar em locais e horários não permitidos, nesses casos a infração é considerada média e rende uma multa de R$ 85,13, além de acrescentar quatro pontos na CNH - Carteira Nacional de Habilitação.
Um outro problema ocasionado pelas restrições a veículos de cargas é o gasto dos transportadores para investir na modificação das frotas, pois diante de tantas restrições aos caminhões, investem na compra de veículos urbanos de pequeno porte como os Vuc’s, que podem trafegar pelas vias normalmente em qualquer horário, desde que obedeçam as regras do rodízio de veículos.
Um estudo feito pelo Instituto Ilos mostra que as empresas brasileiras gastam 8,5% de sua receita com logística. Em 2005, porém, eram 7,4%. Em 2010 os custos dos transportes corresponderam a 10,6% do PIB - Produto Interno Bruto, equivalente a R$ 391 bilhões.
Problemas para o motorista
A restrição afeta diretamente a vida dos caminhoneiros, que têm que encontrar a melhor forma e horário para continuar realizando o transporte das cargas nas vias que seguem com restrição. O caminhoneiro autônomo ainda é o maior prejudicado, que diante das circunstâncias é obrigado a recusar alguns fretes, que comprometem o veículo diante dos dias e horários que o impedem de circular em determinadas regiões. Um outro fator é o tempo que o motorista vai gastar para fazer certos percursos, que pode ser o dobro de tempo gasto anteriormente, assim como o combustível, que passa a ser consumido em proporções maiores, já que ele é obrigado a rodar mais para se desviar das restrições nas principais vias.
Jaconde Fernandes Aguiar é caminhoneiro há oito anos e acredita que as restrições aos veículos de cargas só vieram para atrapalhar a vida do motorista, que tem que evitar as vias de acesso rápido e fácil em determinados horários para fugir da restrição, o que muitas vezes faz com que ele nem volte para casa. Jaconde trabalha na capital de São Paulo, segundo ele, utilizar o Rodoanel seria inviável, já que ele tem de entrar na capital de qualquer forma.
"Eu que trabalho dentro da capital, não posso ir nem vir porque tem restrição, só posso fora daquele horário. E a pessoa que está na estrada há 15 e 20 dias? O caminhoneiro vai chegar aqui, ele não tem um bolsão na estrada para dormir, porque se ele não pode entrar em São Paulo, ele tem que parar em algum lugar, ele não tem segurança, essas coisas que faltam", afirma Jaconde.
Consequências para o transportador
Para alguns transportadores, a nova medida de restrição aos veículos de carga nas vias não vai melhorar o trânsito, além de prejudicar todo o sistema logístico urbano, principalmente restringindo o abastecimento da cidade.
Um dos maiores impactos será na parte operacional, pois os custos vão aumentar obrigando as empresas a trabalharem no limite, além disso, causará um problema de mobilidade, pois muitos motoristas terão que aguardar o horário adequado para chegar nas empresas, muitas vezes estacionando o veículo em locais perigosos somente para não correr o risco de ser multado.
Existem também muitos riscos para os motoristas, que terão que aguardar nas vias até o horário permitido para a circulação, provocando filas de veículos nos acostamentos, que podem expor o motorista ao risco de acidentes e ao roubo de cargas.
De acordo com José Hélio Fernandes, Vice Presidente da NTC&LOGÍSTICA, a restrição aos veículos de carga dificulta a operacionalidade e traz custos ao transportador, pois exige um aumento de frota. Um outro ponto destacado por José Hélio é o problema dos horários, pois as entregas terão de ser feitas durante a noite, gerando custos para a logística e também para o lojista que terá de passar por adaptações.
Assim como outras entidades do setor, a NTC&LOGÍSTICA trabalha para melhorar a qualidade no setor de transporte de cargas, apoiando negociações e projetos de lei que visam regulamentar e melhorar a vida do motorista e o setor de transporte de cargas.
Muitas entidades de transporte de cargas e sindicatos de caminhoneiros, insatisfeitos com as novas regras, saíram às ruas para protestar e reivindicar os seus direitos, lutam por uma melhoria na qualidade do transporte de cargas, assim como melhorias para a classe trabalhadora, que vem enfrentando novos desafios a cada dia, sejam eles de perigo nas estradas, problema com a infra-estrutura rodoviária e principalmente por não poder circular em algumas regiões, que faz com que muitos transportadores e motoristas tenham que passar por adaptações. Diante de tantas reivindicações alguns resultados já foram obtidos, como a diminuição no horário de restrição em algumas marginais.
Mudanças no trânsito
Para promover melhoria na qualidade do trânsito em São Paulo, algumas medidas como a implantação de restrições ao trânsito de caminhões durante os horários mais comprometidos com excesso de veículos, conhecidos como horário de pico, foram adotadas.
A CET
Companhia de Engenharia do Tráfego - procura abastecer a cidade de forma programada, dando preferência para a circulação de caminhões no período da noite, que segundo a entidade agiliza a entrega e proporciona um menor desgaste ao transportador, que faz as entregas com mais calma. Nesse caso, o transportador também tem a opção do uso de veículos Urbanos de Carga, os VUC’S, permitindo um livre deslocamento durante o dia, seguindo o rodízio estabelecido para os outros veículos.
De acordo com a CET, os números obtidos após o início da restrição nas principais vias da cidade já demonstram que as ações implantadas pela Prefeitura para reduzir acidentes e aumentar a fluidez do trânsito tiveram resultados positivos, e já podem ser observados.
Os índices de lentidão registrados na cidade caíram após a proibição dos caminhões na Marginal Pinheiros e Av. dos Bandeirantes. Comparando as médias de lentidão registradas após o início da medida, entre setembro de 2010 e setembro de 2011, com o mesmo período dos anos anteriores, houve redução de 18% nos índices de lentidão em toda a cidade. A lentidão passou de 61,1 km para 50,1 km, das 7h00 às 20h00. Essa medida gerou uma significativa melhora no tráfego da cidade.
FONTE: Na Boléia