Facchini

Ela e seu caminhão

Muita gente diz que dirigir caminhão é coisa de homem. Sim, durante muito tempo isso foi verdade. Tanto, que era quase impossível ver um pesado sendo conduzido por uma mulher. Primeiro, porque os brutos eram realmente brutos, pois exigiam força física para serem controlados — a direção era pesada, os pedais duros, era preciso ter músculos para lidar com o câmbio. E na estrada, não havia opções aos postos de serviço, em geral muito ruins, e as viagens até os destinos duravam muito tempo.
Mas a situação, aos poucos, foi se modificando. E de uns tempos para cá as mulheres começaram a assumir o comando dos volantes. Já não assusta ver uma caminhoneira levando um pesado pelas estradas com a mesma habilidade de um motorista experiente.

Janes Cristina de Souza Araújo é um exemplo. Com 35 anos e mãe de três filhos, ela não pega estrada, mas dirige um Volkswagen Constellation Truck 24-250 pelas ruas e avenidas de Brasília. É um caminhão-tanque, do tipo bob-tail de entrega de gás de cozinha, o GLP, a granel. 
Sua história de caminhoneira começou há 9 anos. Naquela época ela dirigia uma van de lotação para o irmão. “Em 2002, me divorciei e fui procurar emprego. Como sempre gostei de dirigir, fiz um teste em uma transportadora”, conta Janes. Foi na Braspress, na cidade de São Paulo. A empresa havia comprado dez caminhões para entrega de encomendas e procurava dez motoristas mulheres para conduzi-los. “No dia da seleção apareceram só seis candidatas. Deram uma chance para mim, e passei”, lembra.
Depois dessa primeira experiência com pesados, Janes passou a trabalhar com o transporte de combustíveis em Brasília. Em 2007, participou de mais uma seleção de emprego, dessa vez na Copagaz, empresa de distribuição de gás. Ela ficou em primeiro lugar entre os candidatos que fizeram o teste. 
Janes conta que não havia discriminação por parte dos companheiros de trabalho. “No começo, nas ruas as pessoas tinham preconceito. Mas agora é menos. As pessoas me dão parabéns, me elogiam, querem saber como é minha vida de motorista”, diz. E acha que ser caminhoneira traz vantagens em comparação com os homens. “Eu sou mais atenta no trânsito e os clientes me tratam bem”. Ela diz também que cuida melhor do seu caminhão. “Um dia, a polícia rodoviária me parou e pediu para ver os equipamentos de segurança. Depois que o policial fiscalizou, ele me disse: ‘É muito diferente de um homem, pois você deixa tudo bem organizado. Parabéns!’.”
Todo dia, antes de ir para o trabalho, Janes deixa os filhos com uma babá. Ao chegar à empresa, faz uma limpeza no caminhão e checa se a parte elétrica está funcionando bem e se os pneus estão calibrados. Verifica se a documentação está certa e segue a sua rota. “Eu prefiro sair bem cedo”, diz. 
A motorista da Copagaz gosta do que faz. Vaidosa, ela confessa: “Gosto de ser reconhecida nas ruas”.
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