Facchini

Dnit admite que quase 60% das rodovias federais em Minas oferecem perigo


A aproximação da temporada das chuvas, prevista para fins deste mês e início de outubro, acende o alarme quanto às condições das rodovias federais que cortam Minas. E o alerta parte do próprio braço do Ministério dos Transportes encarregado de zelar pela malha rodoviária do país, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Segundo o órgão federal, as mais importantes e extensas estradas encontram-se em obras de ampliação, manutenção e algumas têm buracos, ondulações e barreiras caídas. De acordo com o alerta aos motoristas no site do departamento (www.dnit.gov.br), em 4.569 quilômetros das BRs 381, 040, 262, 116, 135 e 365 no estado, há 2.670 quilômetros (58,4%) que exigem cuidados redobrados. O risco representado pelas obras ficou evidente nessa terça-feira, em um acidente que matou três pessoas nas obras de recapeamento da BR-262 na Região Central do estado. Especialistas alertam que, com as tempestades características da próxima estação, os perigos vão aumentar, diante da perda de visibilidade e da sinalização precária em muitos trechos.
O Dnit classifica as condições de suas vias no site por meio de cores. Onde a situação é boa, o verde deseja “boa viagem”. É o que ocorre na maior parte dos 424 quilômetros da BR-040 entre Paracatu e Felixlândia, por exemplo. Em toda a malha estadual, são 1.899 quilômetros em condições consideradas positivas pelos critérios do departamento, o que correspondente a 41,6% das estradas observadas.
Os problemas começam onde a luz amarela indica locais em que o Dnit recomenda “atenção”, por causa de buracos, operações de recapeamento e da sinalização deficiente para informar aos motoristas sobre obstáculos e cuidados na via. Esse tipo de situação se encontra mais evidente nos 163,7 quilômetros da BR-365, entre Uberlândia e a divisa com Goiás, no pontal do Triângulo. Essas são as características encontradas em 541,7 quilômetros, o correspondente a 11,8% do total avaliado.
A indicação vermelha de “cuidado”, reservada à maior parte dos trechos das seis vias, alerta para locais onde os riscos são maiores, devido a longos trechos de obras com tráfego pesado de caminhões, guindastes, tratores e outras máquinas. Essa é a situação em 438 quilômetros da BR-135, de Curvelo, na Região Central, a Itacarambi, no Norte de Minas. Não há informações no site sobre o trecho de 231,2 quilômetros da mesma rodovia delegado ao Departamento de Estadas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG). 

ADVERTÊNCIA 
A sinalização das obras é a maior preocupação do especialista em transporte e trânsito pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro Paulo Rogério da Silva Monteiro. “As placas e marcações provisórias nunca são tão boas quanto as definitivas. Muitas delas não acompanham a evolução das obras. Dependendo da chuva, além da visibilidade ruim, muito material, como terra e minério, é carreado para a estrada, piorando a aderência dos veículos”, disse.
Segundo o chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Escola de Engenharia da UFMG, Nilson Tadeu Nunes, as obras avançam pelo período de chuvas por causa das dificuldades de liberação de verbas. “Obviamente, nas estradas em obras é preciso mais cuidado. O que acontece nessa época é que a intervenção certamente vai atrasar, porque não vai dar para construir quando chover mais. Serviços como a terraplanagem não podem ser feitos sob qualquer condição”, diz.
O inspetor Aristides Amaral Júnior, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), acha que vale a pena enfrentar o risco agora se for para ter estradas melhores. “Estivemos muito tempo sem obras e elas são bem-vindas. Geram transtorno, mas é melhor passar por isso e ter depois vias em melhores condições”, pondera. O Dnit informou apenas que as obras prosseguirão durante as chuvas e que 90% dos trechos em alerta estão sob manutenção ou construção.

Trabalhar nas BRs também pode matar
O alerta sobre os riscos de trechos em obras não vale apenas para motoristas, mas também para aqueles que trabalham nas intervenções. Foi o que ficou comprovado de forma trágica em acidente envolvendo uma cegonheira no km 170 da BR-262, em São Domingos do Prata, na Região Central, a 160 quilômetros de Belo Horizonte, que deixou três operários mortos e dois feridos. De acordo com agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o desastre ocorreu por volta das 12h, num trecho em recapeamento. Os serviços são executados pela empresa Sinter, contratada pelo Dnit.
Dois operários foram atropelados e morreram no local. Eles não puderam ser identificados de imediato por estarem sem documentos, de acordo com os agentes. O terceiro, Robson Prates da Silva, foi levado com lesões graves para o Hospital Margarida, em João Monlevade, na mesma região, mas morreu durante o atendimento. Ficaram feridos Daniel Aparecido Teixeira Viera, com lesões graves, e Libério Cristiano Ferreira Lopes, com ferimentos leves.
O trecho onde ocorreu o acidente estava interditado no sentido Belo Horizonte. Os agentes informaram que a cegonheira seguia de Vitória (ES) para Anápolis (GO), carregada de veículos, atrás de um caminhão. Ao chegar ao local, o caminhão desviou para a esquerda, observando a sinalização, mas o segundo caminhoneiro, Paulo César Dias de Souza, de 30 anos, não fez o mesmo, batendo em uma máquina e atropelando os trabalhadores. 
Paulo César foi encaminhado à delegacia de São Domingos do Prata. Os agentes explicaram que o tacógrafo da cegonheira, que nesses casos só pode ser retirado durante a perícia, foi levado por um funcionário da empresa, mas, depois de buscas, foi recuperado pela polícia. 

Nunca publique suas informações pessoais, como por exemplo, números de telefone, endereço, currículo etc. Propagandas, palavras de baixo calão, desrespeito ou ofensas não serão toleradas e autorizadas nos comentários.

NOTÍCIA ANTERIOR PRÓXIMA NOTÍCIA