Facchini

Dnit admite que BR-381 pode ficar sem balança para fiscalizar


Eles vêm de destinos distintos, mas mesmo em lados opostos da ponte do Rio das Velhas, no km 454 da BR-381, em Sabará, na Grande BH, têm um desejo único. Cansados do transtorno de desengatar suas carretas bitrens ou rodotrens para atravessar, em duas viagens, as pontes provisórias instaladas no local, caminhoneiros cobram a instalação de balanças no trecho. Com os equipamentos será possível aferir o peso de todas as carretas e autorizar a passagem das com carga inferior a 60 toneladas, peso máximo permitido para cruzar as pontes metálicas. Para reduzir o transtorno, carreteiros pagam a colegas de R$ 50 a R$ 100 para transportar, até o outro lado da ponte, uma parte de seu bitrem.
Quem também espera a instalação dos aparelhos são os policiais rodoviários federais responsáveis pela fiscalização no trecho, já que, segundo eles, somente com a balança é possível ser justo ao permitir ou negar a passagem. Em alguns casos, motoristas de bitrens e rodotrens até apresentam notas com peso inferior a 60t, no entanto, pela categoria do caminhão, são barrados.
Mas, se depender do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), tanto caminhoneiros quanto policiais ainda vão ter de esperar, pois nem mesmo o órgão, responsável pela rodovia, sabe ao certo se os equipamentos serão instalados. Depois de ter descumprido o prazo para instalação que ele mesmo estabeleceu para quinta-feira, o Dnit ainda vai definir hoje se implanta ou não as balanças.
Segundo o do Dnit, a cúpula do órgão em Minas vai analisar com a Superintendência de Polícia Rodoviária Federal (PRF) a necessidade de instalação dos aparelhos. Conforme o órgão, o entorno das pontes não tem área preparada para receber as balanças e, por isso, os transtornos podem ser maiores do que hoje, sem os equipamentos. Tendo em vista o alto de número de carretas para serem pesadas, os congestionamentos poderão ser mais frequentes e ainda mais longos, segundo o Dnit. Segundo a assessoria, o Dnit já assinou o termo de cessão dos aparelhos com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), responsável pelo empréstimo dos equipamentos.

Absurdo
Enquanto isso, horas a fio e dinheiro são perdidos à beira da estrada. Na manhã de ontem, por exemplo, quatro caminhoneiros que viajavam em comboio vindo de Paulínia, a 120 quilômetros de São Paulo, com destino a Ipatinga, no Vale do Aço, calculavam os prejuízos. “Chegamos à entrada da ponte por volta das 19h e, como achamos perigoso desengatar as carretas à noite, dormimos no posto. Em condições normais, fazemos a viagem em 15 horas. Com a interrupção da travessia, gastamos pelo menos mais quatro horas”, afirmou o caminhoneiro José Reinaldo Gomes, de 42 anos. Colega dele, João Barbosa destacou os riscos da manobra. “É perigoso desengatar o cavalinho da carreta, porque ela pode cair e quebrar peças do caminhão. E se isso ocorre é um transtorno. Somente com um guincho para levantá-la novamente.”
O caminhoneiro Eupídio José Jacaria Ferreira, de 59 anos, que há 38 enfrenta as rodovias brasileiras, criticou a interrupção na ponte e o tratamento dado pelo Dnit aos motoristas. Ontem, ele foi barrado por um policial rodoviário federal no Posto Beija Flor a poucos metros da travessia. “O que estamos vivendo é um absurdo. Estão nos tratando como cachorros. Nem mesmo nos avisam, nos explicam quem pode e quem não pode passar. Ficamos sabendo das coisas no boca a boca da estrada”, disse.
E, para quem fiscaliza o tráfego nas rodovias, a situação também não está confortável. De acordo com o policial rodoviário Jailton Tristão, chefe de equipe no posto da PRF em Sabará, pelo menos três falhas comprometem o trabalho no dia a dia. “Não há sinalização que alerta o caminhoneiro que ele precisa pegar o desvio, nem blitzes educativas que informem sobre o motivo da restrição e quem pode passar. Por último, estabeleceram uma capacidade máxima de peso para ponte, mas não temos equipamentos para aferir a pesagem”, afirmou.
Além disso, Tristão critica a falta de uma equipe criada especificamente para trabalhar na fiscalização da ponte. “Já temos o quadro humano deficitário. Trabalhamos em média com seis funcionários, enquanto deveríamos estar com 13. A ponte requer mais atenção, mas não podemos deixar de fazer o policiamento e atender aos chamados do trecho até João Monlevade. ”
O Dnit informou que as placas foram instaladas em vários trechos. O órgão informa que o trabalho estaria a cargo da Confederação Nacional dos Transportes .

Entenda o caso
20 de abril
Um dos pilares da ponte sobre o Rio das Velhas, no km-454 da BR-381, cede e a travessia é interditada. Veículos leves são obrigados a passar por desvio em Santa Luzia, enquanto caminhões pesados são orientados a usar a BR–356, passando por Mariana e Ouro Preto.

19 de junho
Pontes metálicas instaladas pelo Exército sobre o Rio das Velhas são liberadas. Estruturas têm capacidade para veículos com até 60 toneladas. Diante da falta de balanças, carros de passeio, ônibus e caminhões de pequeno porte podem passar, mas carretas ficam restritas ao desvio.

29 de junho
Revoltados com a proibição de atravessar a ponte, motoristas de caminhões de grande porte iniciam um protesto, por volta das 20h, que resultou no fechamento da rodovia por cerca de 15 horas.

30 de junho
Dnit autoriza a travessia para caminhões, mas mantém restrição para carretas bitrens e rodotrens carregadas e veículos de carga com excesso lateral de carga. No mesmo dia, órgão assina documento em que se compromete a instalar balanças em até sete dias.

7 de julho
Vence prazo estabelecido pelo Dnit e balanças não são instaladas.

11 de julho
Dnit deve se reunir com PRF para avaliar se instala ou não os equipamentos de pesagem.
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