Facchini

Buraqueira fatal na BR-116

A morte de três pessoas no quilômetro 57 da BR-116, no Município de Pacajus , na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), na noite da última segunda-feira, faz parte de uma tragédia anunciada. Os acidentes naquela área são recorrentes. Motoristas e moradores reclamam do descaso por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes no Ceará (Dnit/CE).
Após cair num buraco, uma carreta que transportava, na segunda-feira passada, uma carga de água sanitária de Recife para Fortaleza se desgovernou e estraçalhou um Gol cinza que vinha no sentido contrário, vitimando três pessoas, que morreram presas às ferragens.
Jéfferson Francisco Costa Bezerra, 23 anos; Maria do Socorro Sousa Lima, 48, e a filha dela, Luiza Marta Costa Bezerra, 23, não foram as únicas vítimas da falta de manutenção daquele trecho da Rodovia Santos Dumont, mais conhecida como BR-116.

No mesmo dia, cerca de quatro quilômetros depois, por muito pouco, o motorista Paulo Roberto Gadelha, 54 anos, que guiava uma carreta que transportava gado, não foi parar também no cemitério. Bastante ferido após colidir com outro caminhão, foi levado até o Instituto José Frota (IJF), onde se recupera de algumas lesões.

Sem sinalização
"O que ocorre aqui é muito grave. Toda semana testemunhamos acidentes", conta o caminhoneiro Damião Alves, 60 anos. "Pode observar. Quem vem com 70 quilômetros não tem como evitar o pior, pois falta sinalização, além de ser um ponto sem iluminação nenhuma". O depoimento de Damião, longe de exagerado, expressa a realidade. Em pouco mais de uma hora que permaneceu no local, na tarde de ontem, a reportagem pôde observar todo tipo de malabarismo feito pelos motoristas a fim de não colocar o carro dentro dos buracos: passar para a contramão, utilizar o acostamento ou diminuir a velocidade.
A dona de casa Zuleide do Nascimento, 58 anos, que reside nas imediações, foi conferir o estado em que ficou a carreta e o que sobrou do Gol.
"Na semana passada, uma carreta desviou desses dois buracos e veio na direção do meu carro. Tivemos muita sorte e a mão de Deus para não termos tido o mesmo fim dessas pessoas", relata dona Zuleide.
Segundo ainda a dona de casa, há cerca de três anos, por conta do mesmo problema, um veículo de passeio que vinha de Quixadá, após se acidentar, pegou fogo e cinco pessoas morreram carbonizadas. "É corriqueiro. Todo mundo por aqui sabe dessa história. Eles tapam os buracos e, poucos dias depois, está tudo do mesmo jeito. Não sei que tipo de serviço eles fazem por aqui. O certo é que é muito mal feito".
Quem escapou de um acidente mais grave foi o servidor público Willame Ferreira do Nascimento, 39 anos. Na tarde de ontem, ao tentar driblar um dos muitos buracos existentes na BR-116, furou o pneu da sua moto. "É uma irresponsabilidade muito grande. Os buracos se sucedem e, quando são fechados, voltam a aparecer logo", destaca Willame.
Coração na mão
Antônio Paulo da Silva, dono de uma borracharia na entrada de Chorozinho, garante que não falta serviço para ele. "A todo instante para alguém com o pneu furado. Quem anda por essas bandas sabe do lema que temos por aqui: do Pacajus ao Boqueirão, tem que andar com a ajuda de Deus e com o coração batendo na mão".
No último sábado, o Diário do Nordeste denunciou o descaso no quilômetro 19 da BR-116. Ontem, o quadro era o mesmo, com pedaços de madeira e placas na via. A reportagem procurou o Dnit no final da tarde, mas foi informada que o superintendente do órgão só esteve lá de manhã. Às 17 horas, foi encerrado o expediente da assessoria de imprensa do órgão.
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