Facchini

Carretas bitrem carregam insegurança no Anel Rodoviário

Na década de 1970, o setor industrial encontrou uma alternativa que conciliava maior escoamento da produção com custo até 20% menor: a combinação de veículos de carga (CVC), que consiste na articulação entre um cavalo mecânico e dois reboques. Conhecido como bitrem, esse tipo de carreta pode ter sete eixos (19,8 metros de comprimento para até 57 toneladas) ou nove eixos (30 metros e capacidade para até 74 toneladas), enquanto os caminhões menores (cinco eixos e 17 metros) carregam no máximo 25 toneladas de mercadoria. A evolução da logística, no entanto, não foi acompanhada de melhorias na estrutura das principais rodovias que cortam o país, a maioria com pontos de retenção, pistas simples e traçado sinuoso.
Somada à ineficiência da fiscalização, que não consegue tirar de circulação as carretas com excesso de carga e sem manutenção, o que influencia nas frenagens de emergência, o resultado são as frequentes perdas de vidas no asfalto, como na tragédia ocorrida na semana passada no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, que deixou cinco mortos. A avaliação é do engenheiro civil Silvestre Andrade, mestre em transportes e consultor na área. “É impressionante a explosão da frota de bitrens no Brasil, sobretudo a partir da década de 1990. Os veículos evoluíram, mas as estradas, não. Elas continuam com as características de quando foram construídas, boas para a época, mas que ficaram defasadas com o passar do tempo”, disse o especialista.


Restrições 
Ele ressalta que, por ter a maior malha rodoviária do país, Minas tem muitos trechos inadequados para a circulação dos pesos pesados do asfalto. “De um modo geral, as principais rodovias mineiras têm pista simples. Não que os bitrens não consigam circular nelas, mas a segurança fica comprometida. Por ser muito grandes, é preciso que os motoristas dos veículos de passeio tenham um campo de visibilidade maior para ultrapassar esses veículos de carga e uma manobra malfeita pode resultar em acidentes”, afirmou. Silvestre cita as BRs 040, 116 e o trecho da 381 entre BH e João Monlevade, na Região Central, como as mais perigosas para a circulação dos bitrens.
De acordo com o especialista, o motoristas dos bitrens devem ter, no mínimo, 21 anos, carteira de habilitação categoria E e, pelo menos, dois anos de experiência na condução de caminhões de cinco eixos. “Em alguns locais, é preciso que os motoristas tenham autorização especial dos órgãos de trânsito para circular, por causa da possibilidade de danos às obras de arte, que são as pontes e viadutos”, explicou. O assessor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas, inspetor Aristides Júnior, disse que a restrição do tráfego de bitrens no estado só ocorre em feriados, em rodovias de pista simples. “No carnaval, por exemplo, a restrição será das 16h às 22h da sexta-feira (4 de março), das 6h às 12h do sábado (5 de março), das 16h às 22h da terça (8 de março) e das 6h às 12h da quarta (9 de março).”

Sem balanças
Segundo Silvestre Andrade, a fiscalização precária dos veículos de carga também contribui para que eles se envolvam em acidentes. Um dos problemas mais graves, na avaliação do especialista, é a deficiência de balanças. “Os acidentes ocorrem por causa da soma de vários problemas. Há caminhoneiros que transportam carga além da capacidade da carreta, o que afeta o sistema de freios, pois o veículo não foi projetado para carregar um quantidade excessiva de carga. Infelizmente, o número de balanças é muito aquém do necessário”, disse.

De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), há 16 balanças instaladas nas rodovias federais mineiras. Duas (da BR-116) estão desativadas para obras de manutenção e voltam a funcionar em março. O Dnit promete abrir licitação nesse mês para instalação de mais 29 equipamentos - oito fixos e 21 móveis -, mas não há data prevista para eles começarem a operar.
Para Andrade, falta também mais rigor na fiscalização sobre a manutenção dos veículos de carga. Ele ressalta que é comum os motoristas atribuírem os acidentes à falhas no sistema de frenagem provocadas por superaquecimento nas lonas de freios. “No Brasil não há manutenção preventiva, mas apenas corretiva, ou seja, conserta depois que quebra. Mesmo se as lonas de freio superaquecerem, se a manutenção do veículo estiver em dia, a possibilidade de acidente é quase zero”, disse.
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