Facchini

É bom, mas é para poucos

“Proíbecaminhoneiro.” É assim que o autônomo Luciano Soares da Silva, de Saquarema (RJ), diz que deveria ser chamada a linha de crédito do BNDES. Ele inventou o trocadilho depois que lhe negaram financiamento do Procaminhoneiro, apesar de ter renda e patrimônio. “Tenho imóveis, casa, apartamento, terreno. Tenho dois caminhões em meu nome. Mas procurei uma concessionária com todos os documentos e uma semana depois me disseram que meu cadastro tinha sido recusado pelo agente financeiro, sem outra explicação”, conta o motorista com seus trucks caçambas Volkswagen 17210 (ano 2001) e International 4700 (ano 1998).
No papel, o programa do BNDES é uma beleza. Oferece prazo longo de pagamento (até 96 meses), dispensa entrada, permite o financiamento de usados – tudo isso com o menor juro do mercado: 4,5% ao ano. Mas nenhum banco de varejo aceita o prazo máximo (a média é de 60 meses). Além disso, sem entrada não tem negócio e só sai financiamento para veículo novo.
Mesmo quando o autônomo preenche as condições impostas pelos bancos, estes colocam dificuldades burocráticas difíceis de serem ultrapassadas. Para tentar resolver o problema, o BNDES baixou uma circular obrigando os agentes financeiros a utilizarem o Fundo Garantidor de Investimento (FGI) – veja na pág. 24. Mas como a exigência só entra em vigor em 27 de agosto, não se sabe se ela vai ajudar a mudar este cenário.
Também é cedo para saber se outra decisão, esta do Congresso, já transformada em lei, vai facilitar a obtenção de financiamentos como o Procaminhoneiro. É a que obriga as empresas a pagarem os autônomos através de depósito bancário, e não mais por carta-frete, para facilitar a vida deles na hora de comprovar renda.
O motorista Luciano é um dos muitos leitores da Carga Pesada que constantemente nos escrevem criticando o Procaminhoneiro. Por isso, decidimos retomar o assunto, do qual tratamos na edição 145. Conversando com concessionárias e funcionários de bancos, constatamos que ainda há muita desinformação sobre o programa e que poucos bancos se empenham em atender o autônomo.
Na Nacional Caminhões e Ônibus, concessionária Volkswagen de Itaboraí (RJ), somente um Procaminhoneiro para autônomo foi feito até agora, segundo a representante de vendas Terezinha Guimarães. Ela reconhece que “os bancos são muito exigentes quando se trata de financiar veículos aos motoristas”. 
A Supel, concessionária Ford de Pelotas (RS), afirma ter feito apenas três financiamentos pelo Procaminhoneiro para autônomos desde julho do ano passado. Já as empresas conseguiram aprovar cerca de 85 negócios na mesma linha. “Os autônomos quase não conseguem crédito. As exigências dos bancos são muito fortes”, opina o gerente administrativo e de vendas, Valmor Mognon. “A conversa que corre é que existe muita inadimplência nesse setor”, completa.
Já para Junior Bretas, supervisor de vendas da Deva, Iveco, de Belo Horizonte, o Procaminhoneiro para o motorista é “quase impossível”. “O banco tem uma análise de crédito rigorosa para o autônomo. E ele geralmente nem declara Imposto de Renda”, justifica. 
Mas existem concessionárias onde a situação é diferente. Um exemplo é a P.B. Lopes, da Scania. Em Londrina e Maringá, até maio foram faturados 310 caminhões pelas linhas do BNDES, sendo 38 (12% do total) por meio do Procaminhoneiro para autônomos. 
Segundo o gerente geral Marlon Sartório Adami, a aprovação dos negócios depende muito do relacionamento que o motorista tem com seu banco. “Pelo que sabemos, os bancos que fazem Procaminhoneiro para autônomos são apenas o Bradesco, o Banco do Brasil e o grupo Santander.” 
De acordo com Adami, muitas vezes o financiamento é aprovado, mas não nas condições que o autônomo precisa ou deseja. Exemplo: “Às vezes, o banco pede 20% de entrada e o cliente não tem para dar. Ou o banco aprova três meses de carência e o caminhoneiro precisa de mais”.
Ele ressalta, no entanto, que existem condições sem as quais não tem negócio. “Se o caminhão dele não estiver quitado, se ele não tiver capital para dar de entrada e se não tiver como comprovar renda, não tem jeito: os bancos têm liberdade para recusar”, afirma. 
Outra concessionária que dá boas notícias sobre o Procaminhoneiro é a Vecodil, Volkswagen, de Curitiba. Desde que os juros foram baixados, foram feitos 25 negócios, sendo seis para pessoas físicas. Segundo o gerente geral Milton Gomes, as principais exigências para o autônomo são RNTRC ativo, declaração de Imposto de Renda compatível com a compra e entrada mínima de 30%.
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