Facchini

Sem limite para caminhões: balança desativada, asfalto condenado

Minas Gerais tem 39 Postos de Pesagem de Veículos (PPV) desativados às margens das rodovias estaduais e federais. Alguns estão inoperantes há mais de 15 anos, compondo a imagem do abandono da fiscalização do excesso de peso das cargas transportadas. Em contrapartida, o progressivo aumento da frota de caminhões compromete em até 40% a vida útil do asfalto. Para suprir a demanda apenas das BRs, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), baseado nas rotas de origem e destinação de cargas, revela a necessidade de mais 29 equipamentos de pesagem.
O território mineiro tem o maior número de estradas federais do país. São 8.863 quilômetros, que correspondem a 26% do total. Porém, apenas 12 balanças estão em pleno funcionamento nesses trechos. A falha no monitoramento das cargas é visível. A reportagem do HOJE EM DIA percorreu os 100 quilômetros da Rodovia da Morte (BR-381) que separam Belo Horizonte de João Monlevade.
Buracos, rachaduras e desníveis no asfalto contribuem para deixar o percurso sinuoso ainda mais perigoso. Pelo local, trafegam diariamente cerca de 45 mil veículos, sendo 50% deles caminhões. Trechos da BR-040, no sentido Brasília, também foram percorridos. Desativada, uma balança na altura de Ribeirão das Neves (Grande BH) serve como área de caminhada. A pista de acesso está bem cuidada, com meios-fios pintados de branco, postes de luz e vigia 24 horas.
Para conter a farra dos caminhões que trafegam impunemente com algumas toneladas acima do máximo permitido, o Dnit pretende licitar 157 novos postos, sendo 94 fixos e 63 móveis em todo o Brasil. Minas Gerais receberá o maior número de balanças. Serão mais oito fixas e 21 móveis.
Porém, o trecho da BR-381 entre BH e Monlevade não será contemplado com nenhuma balança. “É uma das principais rodovias mineiras. Deveria ter sido priorizada”, aponta Vander Costa, presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg). O Dnit explica que a distribuição das praças foi elaborada para atender as principais rotas, considerando os eixos rodoviários nacionais, já que nem sempre as cargas ficam dentro de um só estado.
Segundo o Dnit, o posto da BR-040 em Ribeirão das Neves está em reforma e voltará a operar em até 60 dias. A reestruturação do sistema de controle de peso no país está orçada em R$ 1 bilhão, para instalação e operação dos novos postos durante cinco anos. O dinheiro terá que sair do Orçamento da União.
Nos 25 mil quilômetros de rodovias estaduais, há também déficit de balanças. São 47 equipamentos em funcionamento, 20 em reforma e cinco desativados. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) informou que a reforma das 20 praças de pesagem ficará pronta ainda neste ano. As demais balanças desativadas pertencem à Receita Estadual.
 R$ 2 bilhões de prejuízo com buracos
Com o crescente número de caminhões, os 25 mil quilômetros de estradas estaduais, somados aos quase 10 mil da malha rodoviária federal que cortam o Estado, estão sendo danificados gradativamente. Somente em Minas Gerais existem 249 mil veículos de carga registrados no Cadastro Nacional de Transportadores Rodoviários. Com a fiscalização precária, o governo Federal investe em medidas paliativas. Somente nas BRs, serão gastos, em 2010, R$ 2 bilhões em obras de manutenção, conservação e tapa-buraco. Os contratos já foram assinados pelo Dnit. O valor é quase o dobro do utilizado no ano passado.
O excesso de peso acarreta em até 40% da redução da vida útil do pavimento. Trafegar por algumas estradas mineiras requer atenção redobrada, por causa das ondulações na pista, que viraram sinônimo de risco de acidentes. O problema é causado por remendos feitos nos buracos e rachaduras do piso. Um dos trechos mais críticos fica na BR-381, próximo ao KM 377, em São Gonçalo do Rio Abaixo (Região Central). Na estreita ponte de apenas 75 metros de extensão sobre o Rio Santa Bárbara, os remendos malfeitos provocam trepidação nos automóveis.
As cargas dos caminhões e as águas das chuvas são as principais causas dos estragos. Laura da Motta, professora do laboratório de geotecnia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o revestimento asfáltico é composto de 95% de brita e 5% de asfalto. As espessuras do pavimento variam de acordo com o volume de tráfego da via.
Segunda ela, os novos projetos para a implantação de pavimento nas rodovias brasileiras possuem vida útil de aproximadamente 10 anos. “Esse seria um período ideal e que deve ser respeitado. Quando esse prazo termina, a pavimentação da rodovia deve ser trocada. O problema é que nossas rodovias são muita antigas e os critérios utilizados para conservação e manutenção nem sempre são os melhores”, observa.
Sobre os serviços de tapa-buraco nas rodovias, Laura reconhece ser um mal necessário. “É uma solução paliativa, mas é melhor do que nada”. Segundo ela, o problema é a forma de execução. “Na maioria das vezes, apenas se coloca o revestimento sobre o buraco, quando, na verdade, o correto é retirar toda a lateral degrada para depois fazer a recuperação”, ensina.
O consultor e especialista em projetos de engenharia de trânsito Frederico Rodrigues salienta que as balanças são a melhor e mais eficaz forma de se controlar os caminhões com cargas em excesso. Além dos danos ao asfalto, diz, há ainda o aumento dos riscos de acidentes. Recente levantamento da seguradora de cargas Pancary mostrou que pelo menos 83 mil acidentes envolvendo caminhões acontecem todos os anos nas estradas de Minas Gerais, deixando cerca de 8.500 mortos. Os trechos mais perigosos estão na BR-381 – no Sul de Minas – e na BR-116, entre Muriaé (Zona da Mata) e Teófilo Otoni (Vale do Jequitinhonha).
Ainda na 381, mas no sentido Vitória, o pavimento colocado no viaduto construído pelo Exército na saída para Santa Luzia também preocupa. No local, mais de 30 mil veículos trafegam por dia. A obra da trincheira demorou quatro anos para ficar pronta. No fim de 2005, foi assinada a ordem de serviço da trincheira, que custou quase R$ 8 milhões, verba repassada pelo Ministério dos Transportes. Os trabalhos foram interrompidos cinco vezes devido a problemas na licitação e execução do projeto. Poucos meses após inaugurado, o viaduto está comprometido devido a afundamentos em alguns pontos.
A duplicação da BR-381, orçada em mais de R$ 2,5 bilhões, ficará pronta somente daqui a quatro anos. O Dnit contratou, em novembro passado, as empresas que venceram a licitação para elaboração dos projetos executivos. As obras incluem 310 quilômetros entre BH e Governador Valadares. A expectativa é que esses projetos sejam entregues até o fim deste ano e as obras comecem no primeiro semestre de 2011.
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