Facchini

Empresas de transporte da Europa estão garantindo emprego para jovens

Todos os anos, a consultora Manpower realiza uma pesquisa global para descobrir quais são as vagas de emprego que as companhias têm mais dificuldade de preencher e os motoristas profissionais, sejam de ônibus ou caminhões, sempre aparecem na lista. Em 2015, eles ficaram em 5º lugar no ranking a nível global, enquanto no Brasil aparecem em sexto.
Mas por que é tão difícil encontrar esses profissionais, seja no Brasil, nos Estados Unidos ou na Europa? Os especialistas apostam em vários fatores e um deles é a falta de crescimento profissional que o setor oferece.  No Brasil e no mundo, os jovens são cada vez mais qualificados e buscam empregos que ofereçam salários altos e a possibilidade de crescimento dentro da área de atuação, o que infelizmente ainda é pouco visto no setor de transporte de carga, inclusive nos mercados mais desenvolvidos.
A principal diferença do Brasil em relação a esses mercados está no fato de que no exterior há grandes empresas e até mesmo órgãos governamentais que vêm investindo pesado para proporcionar um aperfeiçoamento dos profissionais para que eles possam crescer dentro da empresa, como é o caso da Dinamarca.
“Muitas empresas, especialmente as grandes com muitos motoristas, e  caminhões, estão reagindo à falta de profissionais qualificados. Elas estão fazendo muitos esforços para garantir que os motoristas possam ter uma carreira longa dentro da empresa e no setor de transportes”, explica Anders Jessen, consultor sênior da ITS (Educação Assuntos Públicos Regulatórios).
Segundo Jessen, recentemente muitas empresas estão oferecendo emprego garantido para motoristas jovens . Antes eles realizam um treinamento dentro da própria companhia. “Os exemplos desses projetos têm obtido sucesso, já que muitos motoristas têm se comprometido com as empresas. Embora muitas companhias tenham que pagar por grande parte dos custos desse treinamento, isso se mostrou necessário pois senão a falta de motoristas seria imensa”, explica.
Mas por que muitas vezes o investimento em qualificação se limita a funções relacionadas à condução do caminhão e não vai além, envolvendo outras áreas das transportadoras? Para Jessen, há dois motivos. O primeiro está relacionado ao fato de as empresas de transporte serem ainda muito conservadoras e, consequentemente, seus motoristas também o são. “Esses motoristas não pensam que seja necessária mais educação e eles também querem ganhar dinheiro ao invés de participar de outros cursos”, justifica.
Em sua opinião, o segundo motivo é que as escolas dinamarquesas relacionadas ao setor não são boas o suficiente em convencer empresas e motoristas das diversas possibilidades que a qualificação mais ampla pode trazer. “Muitos profissionais podem ter o desejo de mudar de profissão depois de alguns anos. Eles podem desejar trabalhar no escritório da empresa e, de lá, podem oferecer um serviço eficiente aos outros motoristas e aos clientes devido aos seus muitos anos de experiência na estrada”, diz.
Desde o início da vigência da União Europeia, o setor de transporte se viu bastante afetado, já que muitas normas antes estipuladas pelos governos de cada país passaram a ser adotadas em todos os Estados-membros, como é o caso do limite de horas ao volante e regras de tempos de descanso. Mas se o assunto é plano de carreira para motoristas, há ainda muitas diferenças entre os países. No que se refere à qualificação dos motoristas profissionais, um dos projetos mais interessantes é o Know-In, que conta com a participação de diversos órgãos de diferentes países da União Europeia.
Para minimizar esse abismo, há diversos projetos que analisam aspectos do setor de transporte em toda a Europa e propõem soluções que permitam a todos os caminhoneiros da União Europeia trabalharem em condições de igualdade. Isso garantiria não só a livre concorrência, mas também a segurança nas estradas e a prestação de um serviço melhor e mais uniforme.
Na Espanha, quem participou foi o CEEI Albacete (Centro Europeu de Empresas e Inovações). A consultora Ana Córdoba explica que o CEEI Albacete se soma aos objetivos de projeto, que são tanto velar para que os gestores de transporte rodoviário sejam capazes de antecipar as habilidades necessárias;  garantir que não se produzam desajustes laborais no transporte de mercadorias da União Europeia e também incentivar os diretores das pequenas e médias empresas a promover o aprendizado permanente no local de trabalho através da criação de novas ferramentas que permitam que o aprendizado aconteça em qualquer lugar.
“Graças à troca de impressões e experiências, o setor de transporte de mercadorias se conscientizou da importância da gestão do conhecimento e construímos, entre todos, a figura do gestor de transporte rodoviário”, explica a consultora. Para o profissional ser esse gestor é necessário – de acordo com o resultado do projeto Know-In – ter conhecimentos de engenharia, comercialização e gestão, contabilidade e assuntos legais, além de ter habilidade na comunicação escrita e falada.
Na Europa, porém, os empresários ainda não sabem como fazer com que os seus empregados desenvolvam ou aprimorem essas habilidades. Um levantamento feito pelo projeto Know-In mostrou que a maioria das empresas investem em cursos tradicionais na hora de oferecer formação aos seus funcionários, com participações em palestras, cursos e oficinas. No entanto, quando foram questionados sobre o que pensavam dos programas de formação disponíveis atualmente, 20% dos empresários disseram que são insatisfatórios e 28% responderam “não sei”, o que revela que os programas atuais não cobrem as necessidades dos gestores de transporte.
E o problema é bastante sério, pois cerca de metade dos empresários afirmou que todos os seus funcionários – ou parte deles – terão que passar por algum tipo de formação adicional em breve. Os assuntos mais demandados nessa formação são: novas tecnologias, gestão, habilidades organizativas e logística.
Muitos empresários já sabem que para ter mão de obra qualificada precisam investir na formação e qualificação dos motoristas carreteiros de suas empresas. Mas a pergunta é se esses empresários estão preparados para formar líderes que possam gerenciar o negócio e fazê-lo crescer. – Nos países escandinavos, algumas soluções já começam a surgir, embora ainda existam barreiras. Para os especialistas, a resposta está na coletividade: apenas com a união de empresários, trabalhadores, associações e governos será possível ter resultados eficientes.
Anders Jessen conta que na Dinamarca existe atualmente um curso específico de gestão de transporte com um ano de duração, no qual o motorista aprende as tarefas de escritório. “Ele, ou ela, aprende como lidar com documentos, como negociar com clientes e como realizar tarefas gerais no escritório de uma empresa de transporte”.
Esse curso é resultado de uma colaboração entre o Ministério da educação, o Conselho de Ensino de Transporte na Dinamarca (TUR), escolas vocacionais e empresas.  O professor Bo Gade Knudsen explica que o curso é positivo para ambos. “Ao levar os motoristas para o escritório, você passa a ter líderes altamente motivados e traz toda a informação dos motoristas para o escritório, como o conhecimento do trânsito, as dificuldades das estradas, regras e regulamentos dos clientes e muito mais. Eles conhecem a linguagem dos motoristas e serão aceitos mais facilmente porque se identificam com as situações pelas quais os caminhoneiros passam”.
O professor Bo Gade Knudsen ressalta também que há desafios, tais como as barreiras culturais na hora de convencer os empresários, os quais muitas vezes não conseguem enxergar o motorista exercendo uma função diferente; além de poder haver certa competição entre o novo gestor e os antigos colegas de volante. Os ganhos, porém, são muito superiores se houver uma boa gestão por parte da empresa e do funcionário promovido.
O curso de um ano de duração exige que o aluno faça as aulas durante 15 semanas no centro educacional, mas no resto do ano ele poderá estudar em casa ou na própria empresa. No currículo escolar há desde curso de inglês e custos logísticos até gestão de conflitos, liderança e negociação e inclui também visita a empresas.
Nesse caso, o curso é pago – ou pela empresa ou pelo profissional –  mas há outros casos de cursos e treinamentos bancados por associações do setor. “Todo motorista tem a possibilidade de participar de cursos e eventos educacionais, geralmente em até 14 dias do ano. A empresa paga o salário desses motoristas normalmente e podem pedir uma restituição aos fundos coletivos – um exemplo de como a união pode impulsionar o setor.
FONTE: O Carreteiro 
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