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Como cobrar pelo frete agrícola

O setor agropecuário no Brasil vive um bom momento, e as previsões para este e para os próximos anos continuam animadoras. Segundo a Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (AGE/Mapa), o PIB (Produto Interno Bruto) agropecuário do Brasil pode crescer 4% em 2014. De olho neste crescimento, os transportadores podem contar com um grande aliado, o Sifreca (Sistema de Informações de Fretes) criado e desenvolvido pela Esalq-Log, a divisão de logística para o setor agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
O sistema foi pensado como uma ferramenta para auxiliar as transportadoras a ter um planejamento de preços a curto prazo, possibilitando que elas pudessem pensar com antecedência na melhor estratégia para determinadas rotas do país.
Por meio de pesquisas constantes sobre o transporte de diversos tipos de carga, mas com destaque para os produtos agrícolas, o Sifreca realiza análises de dados, como tipo de carga, quilometragem e a qualdiade da estrada, para calcular o preço por tonelada transportada. Com base na coleta de informações, calcula-se o valor do frete, e a divulgação, é feita regularmente para as empresas assinantes por meio de boletins e um jornal da entidade. 
As informações também podem ser acessadas via internet, gratuitamrente, porém com restrições. Já com a assinatura do sistema, as empresas podem ter acesso irrestrito a todas as rotas e produtos agrícolas. Em breve, o site passará por uma remodelação, com novos indicadores de preços, acompanhados de informações mercadológicas específicas de cada setor, como exportação, produção e legislação de transporte.
Para a execução da pesquisa foram consideradas 500 rotas, distribuídas nos principais corredores de transporte do Brasil. Para os embarcadores, a maior vantagem é conhecer antecipadamente o valor do frete em determinados trajetos, bem como a situação da via nas mais diversas localidades do país. O site conta com diversos exemplos reais de rotas, como uma viagem transportando soja de Candeias (BA) com destino a Campinorte (GO), percorrendo 1 524 km, o valor do frete será de R$ 187,00/t. Uma carga de milho que sai de Cândido de Abreu (PR) com destino a Paranaguá (PR) rodará 390 km, e o valor do frete será de R$ 70,00/t. Atualmente o sistema vem coletando e divulgando os valores dos fretes de mais de 50 tipos de produtos, entre eles: açúcar, adubos e fertilizantes, algodão, café, calcário, soja, trigo, suco de laranja, madeira, entre outros.
Estudos elaborados pela entidade em parceria com a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) apontaram as variáveis que afetam o valor dos custos logísticos. Existe uma diferença entre o preço de frete e custo de transporte. Os custos logísticos representam os insumos de produção e estão atrelados à produtividade da transportadora, porém muitas vezes o valor do frete não leva em consideração o custo de transporte, visto que ele é formado pelo equilíbrio entre oferta e demanda. Segundo o coordenador do projeto, Thiago Péra, o período de safra representa uma demanda maior no serviço de transporte, junto a isso, a qualidade das vias, origem e destino, tipos de carga e a existência de alternativas multimodais como as ferrovias, são alguns dos fatores que influenciam no valor final do frete. 
Com relação à qualidade das vias, foi elaborado um mapeamento das rotas do projeto, e criou-se um indicador de cada rodovia, que é classificado como: “rodovia boa” e “não boa”. Sendo que as boas apresentaram redução no valor dos fretes, menores perdas do produto ao longo da viagem, diminuição do consumo de combustível e dos custos operacionais do veículo quando comparada às “não boas”. Foi apontado também que o mesmo equipamento (bitrem graneleiro, por exemplo), nas mesmas rodovias possui precificações de fretes diferentes. Levar açúcar de caminhão até o porto de Santos ou Paranaguá custa mais do que levar soja ou milho.
Quando existem alternativas multimodais como ferrovias, por exemplo, na origem da rota das cargas, o valor do frete é menor. Uma carga que tem como destino os portos possui um valor maior quando comparadas aos destinos de mercado doméstico, inclusive pelas longas filas dos portos, gerando aumento no valor do frete.
O sistema mostrou-se interessante inclusive no planejamento a longo prazo, já que também é realizada uma análise de comportamento histórica de preços, bem como as tendências futuras dos fretes. O estudo fornece subsídios também ao setor público, podendo refletir em investimentos em infraestrutura e, gerando políticas públicas que visem reduzir os custos logísticos do setor agroindustrial. O Sifreca foi criado por um grupo de pesquisadores da Esalq-USP, e a Esalq-Log foi a responsável por desenvolver o sistema. Ao longo do tempo, o projeto passou por diversas modificações, principalmente no número de rotas e produtos avaliados. Atualmente, mais de 30 pesquisadores se dedicam ao projeto, que é dirigido por José Vicente Filho e coordenado por Thiago Péra, ambos engenheiros .
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