Facchini

Agronegócio enfrenta falta de mão de obra especializada

O agronegócio vive uma verdadeira revolução tecnológica com a introdução de inovações que atingem até mesmo a simples aplicação de defensivos. Mas o que aparentemente seria algo positivo traz à tona outra realidade: a falta de mão de obra especializada. Encontrar um profissional para determinadas funções tem- se tornado uma verdadeira dor de cabeça para os produtores rurais. Atualmente, existem milhares de vagas de empregos a serem preenchidas no campo nos mais variados segmentos, mas a falta de qualificação dos trabalhadores está gerando uma situação inusitada, com o desemprego crescente e a oferta de vagas em ascensão.
Para o presidente da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), Élio Neves, "há uma carência profunda nesse sentido, porque vivemos uma espécie de apagão da qualificação profissional." "O Brasil sempre teve política de qualificação e requalificação profissional. Mas infelizmente essas políticas não deram conta de preparar nem trabalhadores, nem empresários para essas mudanças de paradigmas que estamos vivendo, principalmente na agricultura", disse.

Para minimizar a situação, entidades, empresas e o próprio governo federal estão desenvolvendo projetos de elevação de nível escolar e qualificação dos trabalhadores no campo. Mas os números ainda não incipientes. A própria Feraesp, em parceria com a Unica, planeja formar aproximadamente 7 mil trabalhadores para atuarem nas usinas de álcool e açúcar ou em atividades que darão suporte ao setor, como produção de alimentos, produção de uniformes, entre outros.
Pelos cálculos da Feraesp, em conjunto com a União da Indústria Canavieira (Única), que representa as usinas de álcool e açúcar, o setor sucroalcooleiro possui atualmente cerca de 200 mil trabalhadores no corte da cana. Uma função que está com seus dias contados. Atualmente as usinas têm pedidos de 1 mil máquinas colheitadeiras de cana junto às fábricas. Quando essas unidades entrarem em operação, Neves acredita que 100 mil trabalhadores perderão o emprego. A situação fica ainda mais grave se considerarmos o protocolo de intenções assinado entre o Governo do Estado de São Paulo e as entidades que representam os usineiros, que prevê o fim da queima da palha da cana para 2014, em áreas mecanizáveis, e em 2017, em áreas não mecanizáveis.
Mas Neves lembra que o problema não se resume ao setor sucroalcooleiro. "Há uma carência enorme de mão de obra especializada, nos mais diferentes setores da agricultura. Hoje falta motorista para dirigir caminhões modernos, faltam operadores de máquinas agrícolas, tratoristas, mecânicos eletricistas, quer dizer, o campo não é mais um lugar para trabalho manual", analisou. "A informática, as comunicações todo o processo de produção agrícola está diretamente ligado a esses paradigmas da informática. Contudo, seria necessário que os trabalhadores hoje estivessem em outro patamar."
Outro problema sério, segundo Neves, é o nível de escolaridade no campo. "Nós convivemos com nível de analfabetismo muito alto; 70% dos trabalhadores rurais são analfabetos, ou são analfabetos funcionais. Se compararmos a capacidade efetiva de leitura, interpretação, aí chegaremos a somente 10% que têm capacidades e discernimento para interpretação concreta para determinadas situações, que envolvem este momento que estamos atravessando", calculou. "Então este é o quarto desafio: promover alfabetização de qualidade e ao mesmo tempo em massa, promover elevação de escolaridade, e juntamente com isso propor aos trabalhadores especialização em algumas áreas mais carentes."
Portanto, o campo hoje tem mão de obra sobrando, tem oferta de trabalho sobrando e um abismo no meio que foi provocado pela ausência de investimento real nos processos educacionais. Recentemente o governo federal assinou com a Unica e as entidades de trabalhadores o "Plano Nacional de Qualificação do setor canavieiro" que vai qualificar 25 mil trabalhadores em 2011.
Já foi realizado o processo de licitação para todos os estados que têm lavoura canavieira, para 12,600 vagas. O restante deve ser definido ainda no primeiro semestre de 2011. Um projeto com orçamento de R$ 20 milhões.
Outra iniciativa, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) , Glauber Silveira da Silva, é a negociação que está acontecendo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para a criação de centros de treinamento voltados para a qualificação do homem do campo, "o que pode vir a melhorar a situação da mão de obra rural". "Atualmente existem iniciativas regionais, com oferta de cursos em alguns municípios. Mas isso não atende a necessidade do setor como um todo", disse. Para Glauber, essas unidades de ensino devem ser criadas em breve para atender a demanda crescente por trabalhadores qualificados em todo o Brasil.

Para a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Kátia Abreu, a situação é grave, e a entidade pretende fazer um estudo em 2011 para levantar a real situação da carência de mão de obra no campo. O estudo sobre o "apagão de mão de obra no campo" medirá a qualidade atual da mão de obra e indicará o nível de estudo "da porteira para dentro", conforme Kátia. "Formamos um milhão de pessoas por ano, mas não chega nem perto do necessário. Queremos medir a qualidade atual da mão de obra", disse a ruralista. "Precisamos saber o que precisa ser feito para melhorar o nível da mão de obra nas fazendas", completou Kátia Abreu. A presidente da CNA disse que vai propor à Confederação Nacional da Indústria (CNI) uma parceria para avaliar, também, o nível de capacitação nas agroindústrias.
Mas não é apenas mão de obra especializada que falta, segundo o presidente do Conselho Nacional do Café, Gilson Ximenes. Para ele, a agricultura do centro-sul do País não teria como se desenvolver sem a migração de trabalhadores no período de safra. Pelos seus cálculos, somente o café emprega 800 mil pessoas de outros estados na colheita em São Paulo, Minas e Paraná. Já a laranja, que tem sua produção concentrada em São Paulo, conta com cerca de 15 mil trabalhadores do norte e do nordeste. "Não há mão de obra local suficiente porque muitas pessoas preferem se arriscar na cidade", lembrou .
FONTE: MS Notícias
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